O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, é um político reservado, avesso a holofotes. Após ser preso e condenado por envolvimento no esquema do mensalão, ele mantém silêncio em público, mas tem sido um hábil operador nos bastidores de Brasília, atraindo o presidente Jair Bolsonaro para o seu partido e participando de decisões-chave da campanha à reeleição do mandatário. Se em 2012, Valdemar foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, hoje o todo poderoso chefe do PL já fez uma espécie de “rebranding” que reposicionou sua imagem na Praça dos Três Poderes — a ponto de ser chamado recentemente de um “grande parceiro” da Justiça Eleitoral pelo ministro Alexandre de Moraes, conhecido como “xerife” pelos colegas no Supremo.
Na manhã da última quarta-feira, Valdemar foi ao TSE para uma audiência a portas fechadas com integrantes da Corte Eleitoral. O presidente do TSE, Edson Fachin, tem feito uma série de conversas com dirigentes partidários para tratar de temas como a auditoria das urnas, o combate à desinformação e o cadastro eleitoral de jovens. Na sala, estavam presentes outros ministros da Corte, como Sérgio Banhos e Moraes, que atualmente ocupa a vice-presidência do TSE, além de advogados que estão auxiliando o PL e a campanha à reeleição de Bolsonaro.
“O presidente Valdemar foi talvez um dos que mais nos auxiliou na questão do voto impresso”, disse Moraes, ao lembrar as articulações para impedir a exigência de impressoras junto às urnas eletrônicas para registrar os votos em papel de milhões de eleitores brasileiros. Moraes lembrou que organizou no ano passado um café da manhã, que contou com a presença de Valdemar, para tratar da PEC do Voto Impresso. Segundo o ministro, em um determinado momento do encontro, Valdemar disse que ia resolver o problema com os membros da comissão que discutia a proposta. “Ele substituiu os dois do PL e resolveu. Foi um grande parceiro da Justiça Eleitoral”, acrescentou Moraes.
O comentário de Moraes é uma referência às trocas na composição da comissão que discutia a PEC do Voto Impresso. A ofensiva ajudou a dinamitar o avanço da proposta no Congresso, que acabou barrando uma das principais bandeiras eleitorais de Bolsonaro. O presidente da República até hoje insiste em atacar o sistema eletrônico de votação, em vigor no País desde 1996, sem nenhuma acusação de fraude comprovada. Agora, o temor no TSE é o de que o chefe do Executivo não reconheça uma eventual derrota nas urnas.