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Trump e Bolsonaro, unidos pelo ‘absurdo estratégico’

Teorias conspiratórias, desqualificação do oponente e supostas mensagens subliminares são elementos em comum ao presidente brasileiro e seu ídolo americano

Por Laryssa Borges e Ricardo Chapola
Atualizado em 13 nov 2022, 15h38 - Publicado em 13 nov 2022, 15h33
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  • Tudo faz parte de uma grande roda-viva. A partir do recrutamento de apoiadores em busca de status ou de apenas pertencer a um grupo específico, estrategistas arregimentam eleitores com anseios e medos em comum, incutem neles traços de realismo ingênuo e os orientam a se comprometer com uma causa maior, que não precisa sequer ser verdadeira. Pode ser a acusação de fraude nas eleições, por exemplo. Acrescente-se a isso uma pitada de teorias conspiratórias – o perigoso avanço do comunismo ou a conversão de adversários políticos em uma doutrina satânica – e está montado o que estudiosos classificam como “absurdo estratégico”.

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    Por esta teoria, aplicada, segundo o cientista comportamental Hamilton Carvalho, tanto pelo ex-presidente Donald Trump quanto pelo presidente Jair Bolsonaro, agrupamentos engajados são convencidos de que têm de desmascarar conspirações em curso e assumir missão de contar à humanidade verdades incômodas. Com um detalhe: eles, mais do que qualquer outro mortal, são capazes de captar mensagens subliminares e orientações veladas de seus líderes políticos.

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    No enredo de construção imagética, sinais de que o que parecia ser um simples erro de digitação – “desosbtruam as rodovias” –, como escreveu o presidente Bolsonaro no Twitter ao fazer um apelo, depois do segundo turno, pela desmobilização de caminhoneiros nas estradas, foi assimilado por apoiadores do mandatário como um pedido velado de socorro. Em 2017, foi a vez de Trump, que escreveu na mesma rede social: “Apesar da constante imprensa negativa covfefe”. Assim mesmo, covfefe, o que, ato contínuo, foi interpretado como uma mensagem obscura a seus simpatizantes mais fiéis, que compartilharam o aviso como se, de fato, fosse o sinal de alguma coisa.

    Na mesma postagem em que se dirigiu a seus eleitores que bloquearam rodovias por todo o país, ao aparecer de camiseta, Bolsonaro permitiu um novo gatilho para o absurdo estratégico: de mangas curtas, emulava o presidente Volodymyr Zelensky, passando a mensagem de que não só a Ucrânia está em guerra, mas também o Brasil. No nosso caso, guerra contra as urnas eletrônicas, contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Alexandre de Moraes e contra quem mais se apresentar como cúmplice das “eleições fraudadas”.

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    “É planejado. Os truques da eleição do Trump se repetem aqui como método, e o entorno de Jair Bolsonaro sabe o que está fazendo. É clara a cópia da cartilha republicana americana”, diz Carvalho. Entre os exemplos disso estão também o reforço de estereótipos ou características negativas e a criação de apelidos que desqualificam. Em 2015, durante debate com o também republicano Jeb Bush, Trump fez alusão ao adversário como uma “pessoa com pouca energia”, sugerindo que o rival tinha baixa testosterona ou índices de masculinidade aquém do que a sociedade supostamente esperaria de um presidente. Na versão brasileira, o presidente aplicou a fórmula contra o ex-governador de São Paulo João Dória, que nas redes bolsonaristas recebeu apelidos que remetiam à mesma suposta baixa testosterona, como “bumbum guloso” e “calça apertada”.

    Outro exemplo da cartilha trumpista mencionada por Hamilton Carvalho é, em um debate televisionado, se manter o mais próximo possível do adversário, a ponto de desestabilizá-lo. Em 2016, em um confronto com Hillary Clinton, o ex-presidente americano se posicionou tão próximo da democrata que, tempos depois, ela disse que podia sentir a respiração do oponente. No primeiro debate do segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, Bolsonaro reproduziu a tática e passou boa parte do tempo ao lado de Lula, chegando a tocar-lhe os ombros, o que provocou irritação no petista, que, de resto, teve desempenho ruim naquele dia.

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    Não é de hoje que o círculo mais próximo de Jair Bolsonaro tem se aproximado de conselheiros do ex-presidente dos Estados Unidos. Há pouco mais de dois meses, o deputado Eduardo Bolsonaro se encontrou com o ex-estrategista de Trump, Steve Bannon, a quem já havia atribuído a função de consultor eventual da campanha do pai à reeleição. Conforme mostra a edição de VEJA que chegou nesta sexta-feira às bancas e plataformas digitais, partiu do Zero Três a sugestão para que o presidente não reconhecesse o resultado retratado nas urnas no segundo turno, quando Lula saiu vitorioso ultrapassando os 60 milhões de votos. Em linhas tortas, é a versão bolsonarista do infame “Stop the count”.

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