Sem segurança, Witzel não vai mais à sessão secreta da CPI da Pandemia
Não houve consenso entre o ex-governador do Rio de Janeiro e parlamentares da comissão sobre escolta policial dele e da família
O ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), não vai mais depor à CPI da Pandemia, no Senado, em sessão secreta, como programado. O motivo é porque não houve um acordo entre as partes sobre a questão da segurança de Witzel e de sua família. A CPI confirmou a informação a VEJA nesta sexta-feira, 27. O pedido de proteção chegou a ser formalizado pelos advogados de Witzel ao presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), mas não saiu do papel. Aziz já recebeu o comunicado de Witzel sobre a decisão.
Witzel sentou na cadeira da CPI pela primeira vez em 16 de junho. Naquela sessão, transmitida ao vivo pela TV Senado e por toda a imprensa, o ex-governador afirmou ter “fatos gravíssimos” a revelar. O alvo principal envolveria o clã Bolsonaro. Ficou decidido, então, que ele voltaria a dar novas informações à comissão em um encontro sigiloso em Brasília ou no Rio. Em contrapartida, Witzel, a esposa Helena e os filhos teriam direito à segurança pessoal. Desde quando sofreu impeachment por corrupção e deixou o cargo, ele perdeu a escolta de policiais militares a qual tinha direito.
Na mesma sessão, Witzel e o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), discutiram. O ex-governador disse que seu processo de impeachment foi resultado de uma perseguição política desencadeada após ele determinar a investigação da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL). Além de criticar Bolsonaro, Witzel levantou suspeitas também sobre a parcialidade de magistrados do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Ministério Público Federal (MPF) no processo que levou à cassação de seu mandato. Na ocasião, Flávio disse que, se o depoimento de Witzel fosse reservado, ainda assim ele estaria presente.
VEJA apurou que a segurança seria realizada por meio do programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas (Provita), do governo federal. Porém, não houve consenso por dois motivos: falta de recursos e a não adequação de Witzel às regras, como, por exemplo, a de não trabalhar exposto e a se mudar da cidade onde mora. Em seguida, tentou-se com que a proteção do ex-governador e de sua família fosse feita pelo próprio governo do Rio, que teria garantido a escolta por seis meses. Witzel, por sua vez, não se sentiu seguro a aceitar a proposta por este período, considerando um prazo pequeno.
Procurado por VEJA, Witzel não respondeu. O Provita, a Polícia Militar e a Polícia Civil ainda não deram um retorno sobre o assunto. Nos bastidores, integrantes da CPI entendem que, se Witzel tivesse “informações bombásticas” sobre os Bolsonaro, as revelaria durante o processo de impeachment.
Caso vai para o MP
Um dos advogados de Witzel, a pedido do ex-governador, entregou à CPI um dossiê com 74 contratos firmados entre o governo federal e empresas que prestam serviços aos hospitais federais no Rio, como revelou VEJA com exclusividade em 9 de julho. Destes contratos, 21 foram fechados sem licitação na gestão de Jair Bolsonaro num total de R$ 60,2 milhões. A comissão, no entanto, alega não ter tempo hábil para investigar, já que os trabalhos devem ser concluídos até o fim de setembro. Por isso, os senadores sugerirão, no relatório final, que o caso seja apurado pelo Ministério Público.