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Salto sem redes

As suspeitas sobre Flavio Bolsonaro começam a abalar o apoio de seus eleitores no Twitter, um território em que o clã presidencial sempre atuou com maestria

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 jan 2021, 19h35 - Publicado em 25 jan 2019, 07h00

Poucas horas depois de seu anticlimático discurso na abertura do Fórum Econômico Mundial em Davos, o presidente Jair Bolsonaro lançou no Twitter uma provocação. O post trazia uma foto em que ele aparece de celular na mão e a seguinte legenda: “Bolsonaro usando sua arma mortal que deixa a ‘imprensa’ aterrorizada!”. Era uma síntese do estilo que ajudou a levar o representante do PSL ao Palácio do Planalto. Mas a tal arma, que desde a campanha eleitoral vinha disparando sempre no alvo, está começando a engasgar, para desalento do clã presidencial.

Depois que o ministro do STF Luiz Fux surpreendentemente suspendeu as investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre o ex­-motorista Fabrício Queiroz, na quarta-feira 16, as reações e o humor nas redes sociais no que se refere ao presidente e a seus filhos começaram a oscilar. Quando o Jornal Nacional, da Rede Globo, divulgou o conteúdo de um novo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o agora célebre Coaf, mostrando movimentações de Queiroz como suspeitas, as citações negativas aos Bolsonaro no Twitter atingiram seu auge, conforme uma pesquisa da agência AP Exata, de Brasília, que analisou 219 059 mensagens publicadas entre os dias 16 e 23 (veja o quadro na próxima página).

O senador eleito Flavio Bolsonaro, aparentemente, sentiu o baque. Ele, que na campanha tuitava com frequência profissional, tornou-se figura ocasional nas redes sociais desde que o caso Queiroz veio à tona. Escolheu apresentar suas explicações em entrevistas a emissoras de televisão — no caso, Record e Rede TV! —, em vez de submeter-se à espiral de questionamentos da web, na qual se limitou a comentar que falaria às emissoras. As entrevistas, conforme a pesquisa mostrou, tiveram um efeito positivo para o senador eleito: no dia seguinte, o porcentual de comentários negativos caiu para 24,44%.

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“Depois do período de silêncio, Flavio enfim deu argumentos para que as pessoas pudessem defendê-lo. Nas redes sociais, quem fica em silêncio é vencido pela narrativa da oposição”, diz Sergio Denicoli, especialista em dados da AP Exata. Isso não significa que a relação com os eleitores vai ser um passeio, diante de novas suspeitas e perguntas sem resposta. “Os Bolsonaro tinham um controle muito bom da militância na internet, mas, com o fim da polarização eleitoral, ficam em uma posição menos confortável, de dar satisfações sobre questões negativas”, afirma Denicoli.

Outro levantamento, feito por VEJA, considerou 1 354 respostas aos sete únicos tuítes de Flavio publicados entre 7 e 22 de janeiro. A análise mostra que no meio do cabo de guerra entre detratores (67,5%) e apoiadores (29,2%) começa a se abrir uma fresta de internautas que se dizem eleitores bolsonaristas agora desconfiados ou arrependidos. São 3,3% do total — pouco em termos matemáticos, mas uma fração surpreendente para um governo com apenas três semanas de idade.

Aqueles que sempre rejeitaram o nome de Jair Bolsonaro e se posicionam como “resistência” ao presidente têm acompanhado as cenas de frustração de alguns eleitores com um sorriso de desforra — e disposição para amplificá-las ao máximo, aproveitando-se das distorções do meio digital. Viralizou no WhatsApp uma montagem na qual o piloto Rubinho Barrichello, com sua pecha de “atrasado”, teria uma epifania: “Tô achando que o Bolsonaro é corrupto”. Faz a festa do mesmo público um perfil chamado “Bolsominions Arrependidos”, abastecido com testemunhos de decepção. A troça já amealha mais de 446 000 fãs no Instagram e 81 000 no Twitter.

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Ao ser diplomado pelo Tribunal Superior Eleitoral, em dezembro, Bolsonaro enfatizou que “as novas tecnologias” oferecem uma “relação direta entre o eleitor e seus representantes”. “Mas ele tem usado a rede social como um veículo de comunicação à moda antiga: para falar, mas não para responder”, observa André Miceli, professor do departamento de marketing da FGV-RJ. A questão é se o público vai se contentar com essa unilateralidade. Aí é que mora o perigo. O celular, como disse Bolsonaro, talvez seja mesmo uma arma letal. Assim como acontece com as pistolas de verdade, porém, pode acabar atingindo quem acha que está pronto para atirar.

Colaborou Ariane Ueda

Publicado em VEJA de 30 de janeiro de 2019, edição nº 2619

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