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Religião e política: mistura traz bons resultados nas urnas, aponta estudo

Candidaturas de líderes religiosos em 2020 representaram apenas 10% do total, mas elegeram metade dos vereadores em oito capitais

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 28 abr 2022, 12h57 - Publicado em 28 abr 2022, 11h50
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  • Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser), obtida com exclusividade por VEJA, comprova que lançar candidaturas com apelo religioso traz bons resultados para os partidos políticos. Mais da metade (51,3%) das cadeiras das câmaras municipais de oito capitais brasileiras foram ocupadas por políticos que se identificaram para o eleitor como alguém ligado a alguma instituição religiosa, após as eleições de 2020. Em contrapartida, as candidaturas desse grupo – 1.043 no total – representam apenas 10% do universo de pessoas que tentaram se eleger como vereadores nas últimas eleições.

    “As candidaturas que mobilizaram a religião de forma direta foram mais eleitas”, diz Lívia Reis, pesquisadora do Iser e coordenadora da pesquisa. “Essas pessoas circularam por muitas igrejas, não necessariamente as próprias denominações, e tinham relação com pessoas importantes no governo, como a ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, e atores políticos no plano local”, explica

    O estudo foi realizado entre setembro de 2020 e dezembro de 2021, em Belém, Goiânia, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Durante o período, a equipe de pesquisadores buscou observar as estratégias, os discursos e as alianças políticas de candidatos do campo conservador e do campo progressista. Os relatórios e dados ficarão disponíveis para download na plataforma Religião e Poder.

    Os evangélicos se destacam em todas as capitais, com cerca de metade do total de candidaturas com identidade religiosa. Entre as igrejas mais atuantes está a Universal do Reino de Deus, ligada umbilicalmente ao Republicanos, que apresentou candidatos preocupados com questões sociais de grande apelo junto aos eleitores, como violência contra mulheres, empreendedorismo e debate racial. Em segundo lugar vem uma denominação genérica identificada como “Cristãos”,  concentrando-se em partidos de direita, principalmente o PSL, e de centro-direita.

    “Estrategicamente essa palavra tem sido usada para ampliar o espectro do eleitorado, abarcando evangélicos, católicos e pessoas que não têm religião, mas que mantém uma crença. Esses candidatos se inserem moralmente como cristãos, mas não necessariamente têm uma ligação específica com uma igreja. Vemos pessoas de campos opostos identificando-se dessa forma. Carlos Bolsonaro, eleito no Rio, é um representante conservador, ao passo que Duda Salabert, primeira vereadora trans de Belo Horizonte, a mais votada na capital mineira, faz parte de um grupo denominado cristãos contra o fascismo”, diz Lívia Reis.

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    Já as candidaturas católicas estão mais alinhadas aos partidos de esquerda, principalmente o PT, que concentra 48% dos políticos identificados com essa religião. De acordo com o estudo, isso se deve à ligação histórica que a legenda mantém com as pastorais sociais. Quando se trata de obter sucesso nas urnas, no entanto, os católicos tradicionais, mais ligados aos partidos de centro-direita, como o PSD, costumam se dar melhor.

    Ainda minoritárias, as candidaturas relacionadas às religiões de matriz africana também estiveram presentes. Nesse caso, os candidatos se posicionaram como forma de resistência, levantando a bandeira da diversidade e da tolerância.

    O Iser também se debruçou sobre as redes sociais dos candidatos e constatou que o debate virtual se concentrou em 15 grandes temas que foram classificados como “contextos de mobilização”. Embora a pauta moral, com forte interesse em família, infância, religiosidade, questões ligadas a gênero e raça, direitos reprodutivos e sexuais e valores cristãos estivessem presentes, os políticos também se preocuparam em debater áreas de interesse geral, como saúde, segurança, cultura e economia.

    “Esse relatório antecipa discussões importantes para as eleições de 2022. A pauta moral deve ser ampliada por temáticas da vida cotidiana que já são tratadas dentro das igrejas, como violência contra a mulher e empreendedorismo. A busca pelo bem-estar e a prosperidade serão abordadas com um viés religiosamente orientado por essas candidaturas”, explica Reis.

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