Com a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo, 30, é natural que parte de seus apoiadores se sintam órfãos do “mito” que em 2018 construiu a narrativa vitoriosa de representar a encarnação de um político outsider e antissistema, apesar de ter sido deputado federal por quase três décadas anteriormente. No entanto, a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 50,83% dos votos até aqui (98,9% das urnas já foram apuradas), está longe de significar o fim do fenômeno conhecido como bolsonarismo, que deve prosseguir forte com os figurões eleitos neste ano para o Congresso e para o governo do estado mais populoso do país.
Os principais nomes que deverão liderar nacionalmente essa porção do eleitorado estarão no Senado, onde Bolsonaro conseguiu emplacar aliados de peso. Os de maior destaque são a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos), eleita pelo Distrito Federal com 714.562 votos, e o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União Brasil), que teve expressivos 1.953.159 votos no Paraná. Moro deixou o governo Bolsonaro em 2020 atirando, acusando o presidente de interferir na Polícia Federal, mas se reaproximou do aliado neste segundo turno.
Bolsonaro também conseguiu eleger senador seu atual vice, o general Hamilton Mourão (Republicanos), com 2.593.229 no Rio Grande do Sul. Mourão, inclusive, tem levantado, depois de eleito, uma das principais bandeiras do bolsonarismo-raiz: a de que é preciso colocar freios no Supremo Tribunal Federal.
Outros aliados de primeira hora que terão mandato em 2023 e darão seguimento ao bolsonarismo no Senado são o astronauta Marcos Pontes (PL-SP), o ex-secretário nacional da Pesca Jorge Seif (PL-SC) e a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP-MS) — essa, registre-se, menos afeita às teses mais barulhentas do grupo.
Mas o golaço de Bolsonaro nestas eleições, capaz de manter o bolsonarismo vivo devido ao peso político e econômico do estado, foi a vitória do ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) para o governo de São Paulo. Ele teve mais de 55% dos votos neste domingo e assumirá um estado no qual o PSDB, hoje enfraquecido, foi hegemônico por 28 anos.