A demissão do presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Ribeiro Pereira Lopes, foi decidida internamente no governo por causa da insatisfação do presidente Jair Bolsonaro com a abordagem de questões de demonstravam a desigualdade entre homens e mulheres em provas como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), porta de entrada para mais de 50 universidade federais. A gota d’água foi a abordagem da diferença salarial entre a maior jogadora de futebol de todos os tempos, a brasileira Marta, e o craque Neymar Jr., o mais importante brasileiro em atividade de futebol. O tema, alvo de uma questão na primeira prova do Enem deste ano, levou a protestos do presidente Jair Bolsonaro, que disse ter considerado “ridícula” a comparação entre os dois atletas.
A apoiadores, Bolsonaro disse que “o futebol feminino ainda não é uma realidade no Brasil” e justificou a desigualdade salarial como questões da “iniciativa privada”. “Não tem que ter comparação. Futebol feminino ainda não é uma realidade no Brasil. O que o Neymar ganha por ano todos os times de futebol juntos no Brasil não faturam por ano. Como que vai pagar para a Marta o mesmo salário? Isso chama-se iniciativa privada. Ela que faz o salário. Ela que mostra para onde o mercado deve ir. Então, [o Enem] faz umas questões absurdas sempre pregando a igualdade, mas por baixo”, disse o presidente na ocasião.
A queda do presidente do Inep ocorre na semana em que foi realizada a reaplicação do Enem, adiado para candidatos que, por conta da pandemia, tiveram problemas logísticos para realizarem a prova na data original e para aqueles que foram contaminados pelo novo coronavírus e não puderam fazer os exames. A demissão de Alexandre Lopes foi decidida em janeiro.
O chefe de gabinete de Lopes, Marcelo Silva Pontes, também foi exonerado na sexta-feira, 26, em ato assinado pelo ministro da Educação Milton Ribeiro, que nesta sexta Ribeiro teve de prestar depoimento em um procedimento de investigação que apura se ele cometeu atos de homofobia ao afirmar que gays são resultado de “famílias desajustadas”. Como revelou VEJA, o Ministério Público aguardava apenas a oitiva de Ribeiro para formalizar denúncia contra ele perante o Supremo Tribunal Federal (STF).