Dos atuais 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), oito são católicos — Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Edson Fachin, Gilmar Mendes, Kassio Nunes Marques, Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski –, dois são judeus — Luís Roberto Barroso e Luiz Fux — e Rosa Weber não revela a religião, mas não é evangélica. Essa realidade deve mudar em breve. O presidente Jair Bolsonaro já avisou a auxiliares que pretende indicar o advogado-geral da União e pastor licenciado da Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília, André Mendonça, para a vaga que será aberta com a aposentadoria de Marco Aurélio neste mês. Para o líder da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), a decisão é do chefe do Executivo e cabe ao Senado confirmar a indicação, qualquer que seja o escolhido. Cezinha, porém, é um dos maiores entusiastas do nome de Mendonça.
“Essa caneta é exclusiva do presidente. A Constituição lhe dá esse direito (de indicar ministro do STF) e eu acredito que ninguém tem o direito de pressioná-lo”, diz o deputado a VEJA. “Qual o problema de ser evangélico? Evangélico é brasileiro como qualquer outro, a diferença é que tem uma crença em Deus, acredita em Jesus Cristo e na salvação.” A seguir os principais trechos da entrevista em que o parlamentar atacou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), fala da aproximação de seu partido com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e se definiu como um “fiel soldado” de Bolsonaro — no mês passado, montou na garupa do presidente, em uma motociata, sem usar máscara.
Por que é importante ter um evangélico como ministro do STF? O STF é a última trincheira dos evangélicos? Nós temos poucas representações no Judiciário em geral, porque não foi trabalhado isso. É óbvio que, quando se trata de um evangélico, vem uma resistência aí pelo tipo de narrativa que se foi colocado. Às vezes, é até pejorativo quando alguém fala assim: “Ah, mas por que tem de ser evangélico?”. Mas qual o problema de ser evangélico? Evangélico é brasileiro como qualquer outro, a diferença é que tem uma crença em Deus, acredita em Jesus Cristo e na salvação. O presidente Jair Bolsonaro enxergou isso. Ele, sendo um homem conservador, de direita, enxergou que é necessária uma representação, não para defender ideologias, mas sim a certeza de que esse grupo está representado na Suprema Corte.
O senhor teme uma rejeição ao nome de André Mendonça? O evangélico é conservador. Você pega hoje o STF, independentemente de ter ali, acho você tem dois judeus, oito católicos, todos seguem a Constituição, assim como todo brasileiro segue a Constituição. O Senado deve referendar qualquer nome que o presidente indicar. Essa caneta é exclusiva do presidente, a Constituição lhe dá esse direito e eu acredito que ninguém tem esse direito de pressionar o presidente da República, seja qual for ele, seja Bolsonaro ou qualquer um outro. O presidente decide. Então o que ele decidir, o Senado tem, claro, de apoiar.
Como é a relação dos evangélicos com o governo Bolsonaro? A relação sempre foi muito boa com qualquer governo, até porque o evangélico traz paz, salvação, luz onde há trevas. A esmagadora maioria dos evangélicos possui pensamentos de centro-direita. É óbvio, é notório que, quando você encontra um presidente que acorda falando em Deus, vai dormir falando em Deus, e coloca Deus acima de tudo, ele alegra esse eleitorado. E essa questão de falarem que “a igreja está dividida”, não tá nada.
Os evangélicos estão fechados com Bolsonaro? Estou no PSD. O PSD é independente no Congresso, mas eu sou parte do governo federal. Faço parte do governo. Ajudo o governo, voto pelo governo e faço votos de que o governo dê certo e se reeleja. Sou fiel soldado do governo, do povo brasileiro.
O senhor inclusive subiu na moto com Bolsonaro em São Paulo em uma dessas motociatas, no mês passado. A convite dele. Ele convidou, eu nunca tinha montado numa moto, mas topei o desafio. Levei até multa do Doria (por não usar máscara), mas tá valendo.
O senhor já pagou a multa? Deve estar vencendo o prazo de pagar… É que o Doria não defende a igreja. Ele fechou as igrejas. Ele foi o único governador que foi contra tudo. Tanto é que os lockdowns dele não deram efeito. O governador não gosta de crente porque ele fechou as igrejas de São Paulo, foi um dos únicos Estados que fizeram isso.
Quando o sr. vê nas ruas o povo pedindo impeachment e erguendo faixas com a mensagem “Bolsonaro genocida”, fica incomodado? O povo brasileiro vive na democracia, pode falar o que quiser. Nem Jesus Cristo teve a maioria com ele. Ele teve uma parte. Todo mundo tem direito de ir e vir, que inclusive em São Paulo isso foi proibido. Foi uma lástima o que o governador fez. O governo de São Paulo fechou o Estado e quem paga a conta é o governo federal. Proibir as pessoas de exercer o seu direito de ir e vir… Ninguém pode impedir as pessoas de se manifestarem, em todos os governos teve os prós e os contras — e não será diferente neste governo.
Lula ameaça a reeleição de Bolsonaro? Nós vivemos em um país democrático. É o povo que vai escolher. A eleição é no ano que vem. Qual governo no mundo que está bem avaliado no meio da pandemia? Nenhum.
Lula tem conversado com o presidente nacional do seu partido, Gilberto Kassab, para costurar acordos e montar palanques regionais. É uma aliança possível? O Kassab, se tomar uma decisão dessa, explode o partido. Hoje temos aqui na Câmara e no Senado, a esmagadora maioria, quase 100% do partido vota com o governo. Significa que o governo tá dando certo. Ele sabe o que tá fazendo.
O senhor foi o primeiro deputado federal a revelar que foi infectado pela Covid-19. Foi uma gripezinha?
Fui o primeiro diagnosticado, em 16 de março de 2020. Não tinha nem protocolo na época. Fiquei com febre alta, comecei a ficar com o corpo ruim. Me recuperei, fica aquela sequela normal do covid que todo mundo fica, que é o cansaço. É normal, mas você vai fazendo aquilo que os médicos vão te orientando, ainda que não são regras, vai recuperando normal.