Pupilo de Lira corre o risco de sofrer terceiro revés seguido
Pré-candidatura de Elmar Nascimento à presidência da Câmara enfrenta resistência de deputados e desconfiança de integrantes do governo Lula
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ainda não anunciou o nome que apoiará para sucedê-lo no cargo, mas a preferência dele pela pré-candidatura do líder do União Brasil na Casa, Elmar Nascimento (BA), é conhecida pelos deputados. Se dependesse apenas da vontade pessoal de Lira, Nascimento seria eleito por uma espécie de consenso, enfrentando na votação, marcada para fevereiro do ano que vem, apenas concorrentes de siglas ideológicas, que participam do páreo para marcar posição.
Até agora, o cenário idealizado pelo alagoano parece improvável. Na última terça-feira, os outros três pré-candidatos já anunciados à presidência da Câmara — Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões Jr (MDB-AL) — se reuniram em Brasília e deixaram claro que não pretendem desistir de suas postulações caso Lira anuncie apoio a Elmar Nascimento. Eles também concordaram com a avaliação de que a tendência hoje é de haver disputa acirrada pelo cargo.
Amigo de Lira, Nascimento enfrenta resistências por diferentes motivos. Boa parte dos seus colegas não simpatiza com ele, considerado de trato difícil e até truculento. A bancada do PT, por exemplo, prefere Antonio Brito, mas seguirá a orientação do presidente Lula, que publicamente diz que não interferirá num assunto da alçada do Legislativo. Já alguns ministros do governo cogitam apoiar Marcos Pereira, que tem feito gestos em direção ao Palácio do Planalto.
Sucessão de vetos
Apoiador da campanha à reeleição de Jair Bolsonaro, Elmar Nascimento já colheu dois reveses na gestão Lula. Apesar de ter criticado o presidente durante a corrida eleitoral, o deputado foi cotado para assumir o Ministério de Minas e Energia, diante da necessidade do petista de atrair partidos de centro para sua base de apoio no Congresso. Essa possibilidade foi descartada com a alegação de que Nascimento é próximo de um dos maiores empresários do setor de gás.
Depois, cogitou-se convidar Nascimento para assumir o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, mas ele acabou vetado pelo chefe da Casa Civil, Rui Costa, de quem é adversário político na Bahia. Quando Lira recomendou a Lula a demissão de Costa, no ano passado, o presidente orientou o ministro a tentar se aproximar do comandante da Câmara. Assim foi feito. Costa, então, pediu a ajuda de Elmar Nascimento, de quem se aproximou desde então.
O problema, como o próprio Nascimento já declarou, é que Rui Costa não tem voto no plenário da Câmara. Além disso, por mais poderoso que seja, não decidirá a estratégia de Lula para a sucessão de Lira. Diante de resistências na Câmara e no governo, o líder do União Brasil corre o risco de perder também seu próximo desafio. A torcida para que isso ocorra é grande entre alguns deputados. Eles alegam que, se Elmar Nascimento foi vetado para o ministério, ele provavelmente será vetado para chefiar a Câmara, um posto muito mais poderoso e sobre o qual Lula não tem ingerência.