Há entre certos ministros do governo, magistrados de tribunais superiores e parlamentares a esperança de que Jair Bolsonaro reduzirá a radicalização e a escalada de ataques às instituições depois das manifestações marcadas para 7 de Setembro. Em Brasília, os mais otimistas alegam que o presidente da República está insuflando a sua base de apoio mais radical com o objetivo de mostrar que ainda tem influência nas ruas, capacidade de mobilização e poder de fogo para defender o seu mandato e viabilizar o seu projeto de reeleição. Depois do feriado, colhida a imagem de demonstração de força bolsonarista, haveria a aguardada inflexão, com Bolsonaro retomando algum tipo de diálogo com representantes de outros poderes.
Líder da oposição, o PT não acredita que haverá uma nova rodada de moderação. Para o partido, Bolsonaro apostará cada vez mais no confronto e na tensão institucional até as eleições, a fim de criar um clima de guerra permanente no país. O objetivo, segundo os petistas, não seria necessariamente dar um golpe, mas intimidar setores da sociedade e do eleitorado de modo que eles não se posicionem politicamente, não façam campanha e, em última instância, desistam de votar. Pressionada pelo Palácio do Planalto, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) adiou o anúncio de um manifesto em defesa da democracia. Outras entidades empresariais, no entanto, divulgaram notas que, na prática, censuram o acirramento de ânimo por parte do presidente da República.
“Há uma tentativa de impedir que as ruas sejam disputadas e que as pessoas se manifestem politicamente. Bolsonaro quer que as pessoas tenham medo de fazer campanha e de votar. Se isso acontecer, seus 25% de apoio podem se transformar em 40%, 50% de votos válidos”, diz um dirigente petista, esticando ao máximo a corda do raciocínio. Foi exatamente para manter as ruas sob disputa que a direção do PT convocou movimentos de esquerda a também marcharem no 7 de Setembro. Há atos previstos para São Paulo e Brasília, que prometem ser tomadas por bolsonaristas. Segundo pesquisa da Quaest Consultoria divulgada na quarta-feira 1, Lula lidera as intenções de voto com porcentuais entre 44% e 47%, a depender do cenário, enquanto Bolsonaro marca entre 25% e 26%. A aprovação ao governo do ex-capitão é de apenas 24%.
Em queda nas pesquisas desde o ano passado, o presidente quer evitar uma desidratação ainda maior de seu núcleo de apoio. Já a maior preocupação dos petistas no momento não é propriamente com as ruas, mas com a possibilidade de adesão em massa das Forças Armadas e das polícias militares a Bolsonaro, o que poderia levá-lo a consumar a ameaça de não reconhecer eventual derrotada na sucessão presidencial de 2022. “Hoje, qualquer diagnóstico sobre o apoio das Forças Armadas a ele é impreciso. Nosso esforço permanente é para impedir que haja uma unidade dos militares em torno do Bolsonaro”, diz o dirigente petista.
Esse esforço se dá em duas frentes. Ex-ministros da Defesa dos governos do PT estão em contato permanente com integrantes da cúpula das Forças Armadas e oficiais reformados com o objetivo de tê-los como aliados na defesa da Constituição e na resistência a uma eventual aventura golpista de Bolsonaro. Além disso, governadores estão trocando informações sobre as policias militares para saber quais delas podem se insubordinar e aderir politicamente ao presidente. O temor de sublevação é real, sobretudo em estados nos quais já houve motins. “Não conseguiremos reverter o apoio de alguns generais e alguns policiais militares a Bolsonaro, mas a grande questão é não deixar que se forme uma unidade em torno dele”.