Estudantes e professores que protestam, nesta terça-feira, 13, contra cortes no orçamento do Ministério da Educação se dispersaram na Praça da República, em São Paulo, por volta das 20h. No início da tarde, dois quarteirões da Avenida Paulista eram ocupados pelos manifestantes. Os grupos presentes também protestaram contra a reforma da Previdência, aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados. O público, no entanto, não foi o mesmo de atos anteriores, como o de maio deste ano.
No Rio de Janeiro, a manifestação partiu da Igreja da Candelária pouco depois das 18h e seguiu pela Avenida Rio Branco, entrando na Avenida Chile, até a sede da Petrobras. O ato reuniu milhares de pessoas, ligadas a centrais sindicais, partidos políticos, sindicatos de diversas categorias e estudantes secundaristas e universitários.
O policiamento foi reforçado durante o ato, que seguiu pacífico até a chegada à Petrobras, por volta de 18h45. No local, as lideranças da manifestação discursaram, com apoio de um carro de som, criticando a redução de verbas para a educação e as reformas econômicas em curso no Congresso. A chuva, que começou tímida no início do protesto, se intensificou e acabou dispersando os manifestantes que deixaram o local, em busca de transporte ou um lugar para se abrigar.
De manhã, em Brasília, manifestantes fecharam três faixas do Eixo Monumental. O ato foi reforçado com a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas, que também protestavam na Esplanada dos Ministérios. Além da questão orçamentária que pautaram os dois últimos protestos, os manifestantes também expressam insatisfação com o programa Future-se e o governo de Jair Bolsonaro (PSL).
Segundo a União Nacional dos Estudantes (UNE), 1,5 milhão de pessoas foram às ruas nesta terça-feira, em 205 cidades de todos os estados, mais o Distrito Federal. Em seu perfil oficial no Twitter, a UNE afirmou que novos protestos estão previstos para o dia 7 de setembro.
Em Brasília, onde o ministro Sergio Moro (Justiça) autorizou o uso da Força Nacional de Segurança para fazer a vigilância do MEC, um grupo fechou parte da Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB), no Distrito Federal. O grupo queimou pneus na via, interrompendo parcialmente o tráfego de veículos.
Na capital federal, a secretaria de educação do DF não suspendeu as aulas nas quase 700 escolas públicas da rede de ensino, mas ainda aguarda informações das coordenações regionais para fazer um balanço do impacto dos atos. Na Universidade de Brasília, a paralisação dos docentes foi aprovada em assembleia geral na segunda-feira, 12, pela associação que representa a categoria, mas a adesão efetiva caberá a cada professor.
Nordeste
No Recife, embora a Universidade Federal de Pernambuco não tenha suspendido as aulas, professores e técnicos de vários departamentos dos três campi (Recife, Caruaru e Vitória de Santo Antão) da instituição aderiram ao movimento e não compareceram ao trabalho. Alunos de outras instituições, como o Instituto Federal, também não tiveram aulas. Um grande ato ocorre na rua da Aurora, em frente ao Ginásio Pernambucano. Outras manifestações foram agendadas em, pelo menos, outras quatro cidades do estado: Arco Verde, Caruaru, Garanhuns e Petrolina, de acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, que também organiza os atos.
Em Salvador, manifestantes se reuniram no Largo do Campo Grande, de onde saíram em caminhada até a Praça Castro Alves. Expondo faixas e cartazes, o grupo pediu mais investimentos em educação. Uma manifestação semelhante ocorreu em Feira de Santana.
Em Fortaleza, os manifestantes se concentraram na Praça da Gentilândia, no bairro Benfica. Participam professores, estudantes e outros trabalhadores da educação. Segundo a Central Única dos Trabalhadores (CUT), ao menos 12 cidades cearenses devem sediar alguma atividade alusiva à mobilização ao longo do dia, entre elas Juazeiro do Norte, Sobral e Itapipoca.
Para o atual presidente da UNE, Iago Montalvão, que tomou posse em julho, os protestos refletem uma preocupação da sociedade com o “futuro do nosso país”. “As universidades estão sem condições de funcionar e os estudantes estão preocupados com o que pode acontecer no futuro. Ao apresentar um programa como o Future-se, o MEC não resolve o problema atual da universidade e aponta uma saída que incomodou muitas vezes, colocando uma dependência do setor privado”, afirmou a VEJA.
Em maio deste ano, dois protestos foram organizados pela entidade contra o contingenciamento de 30% de gastos discricionários das universidades. No dia 15, foram registrados atos em 220 cidades, sendo a maior manifestação contra o governo Bolsonaro. Já no dia 30, o número de manifestantes foi menor, com 115 mobilizações. Iago Montalvão é otimista e diz que esta terça-feira vai ser “mais um dia de luta da sociedade como um todo”. “Acreditamos que vamos repetir a dose do que aconteceu em maio, com elementos novos”, declara.
Na época das primeiras manifestações, a então presidente da UNE Marianna Dias, em entrevista a VEJA, afirmou que, embora o aperto orçamentário e a escassez de recursos para a educação não sejam algo inédito nem uma exclusividade do novo governo, a falta de diálogo da gestão de Bolsonaro é uma das grandes diferenças em relação a governos anteriores: “Houve desrespeito”.