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Promotor: Moro teve a vida salva, mas ninguém sabe o que PCC pode fazer

Jurado de morte pela facção, Lincoln Gakiya avisou sobre plano de sequestro do ex-juiz da Lava-Jato e teme por novas tentativas de rapto de autoridades

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 jul 2023, 18h16
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  • Principal autoridade do país no combate à expansão do Primeiro Comando da Capital (PCC) e aos planos de fuga de chefões do narcotráfico, o promotor Lincoln Gakiya encabeça a lista de jurados de morte da facção há anos, quando protocolou um pedido de remoção de Marcos Camacho, o Marcola, do sistema penitenciário paulista, onde o grupo criminoso se criou, para presídios federais de segurança máxima. No início do ano, Gakiya desembarcou às pressas em Brasília para avisar ao senador Sergio Moro que havia sido descoberto um plano para sequestrá-lo e, possivelmente, assassiná-lo. As informações, recolhidas de um dissidente protegido pelo Estado, levaram a Polícia Federal a prender o grupo responsável pelo rapto, mas o perigo, diz Gakiya, não acabou, e os dados de Moro já estão completamente catalogados pelo bando. A VEJA, ele diz receber informes frequentes de que o PCC “tem todo o tempo do mundo” para abater seus alvos e afirma: “Não creio que Moro esteja livre de qualquer risco. O senador teve a vida salva, mas ninguém pode prever o que esses criminosos são capazes de fazer”. A seguir os principais trechos da entrevista.

    Em que momento o PCC passou a ser considerado uma máfia? O PCC alcançou o status de máfia quando conseguimos em 2020 rastrear uma operação de lavagem de dinheiro estruturada e identificar que eles mandaram para o Paraguai 1,2 bilhão de reais no período de um ano e quatro meses. Era o tradicional ‘follow the money’. O dinheiro era recolhido semanal ou quinzenalmente e entregue em um hotel de luxo para doleiros que providenciavam, via dólar-cabo, a remessa ao exterior a uma taxa de 10%. A grande descoberta foi que soubemos pela primeira vez que o dinheiro do PCC não ficava no Brasil.

    Como máfia, em que medida o PCC está infiltrado no Estado brasileiro? Eles estão entrando no mercado formal usando lacunas e deficiências de fiscalização e corrupção de agentes públicos, se infiltrando nos poderes, participando de concorrências públicas de lixo e de transporte metropolitano urbano, por exemplo. Hoje a facção aboliu até o pagamento de mensalidade porque não precisa mais. O tráfico internacional é o carro-chefe do PCC. Ele fez associações com outras máfias, como a calabresa ‘Ndrangheta, a principal máfia do mundo. Estimamos que coloquem de três a cinco toneladas de cocaína por mês na Europa com preço de venda de 25.000 a 35.000 euros o quilo.

    Por que o senador Sergio Moro entrou na lista de jurados de morte do PCC? O PCC hoje age com técnicas e táticas terroristas. Eles têm plano A e plano B. O plano A é o resgate do Marcola a qualquer preço, demonstrando que teriam o poder de não se subjugar ao Estado. O plano B são ataques e sequestros de autoridades pelo país. Moro é uma delas. Pelo que os relatórios de inteligência diziam, a insatisfação com o senador é porque, quando ministro da Justiça, ele proibiu visitas íntimas do sistema penitenciário federal. A revolta não é pela proibição de sexo ou de ver a família, mas porque impede as ordens deles de circularem.

    Um delator de dentro do próprio PCC revelou os planos de sequestro de Moro. O informante, um integrante do PCC de alto escalão que acabou sendo jurado de morte e está no programa de proteção a testemunha, havia nos contado o plano de sequestro e que havia um planejamento em curso: onde ele trabalhava, onde ele tinha escritório, onde a filha faz academia, onde estuda o filho, onde fazem estágio. Fiquei estarrecido com a quantidade de informações. Todo o levantamento sobre ele já está pronto. Os planos de alvejarem figuras públicas são permanentes no PCC.

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    A polícia diz que o sequestro não foi concretizado porque eles foram desmascarados ao longo do planejamento. Ele só não foi sequestrado ou vítima de um atentado porque não houve um start que viria do sistema penitenciário federal. Moro dispõe de escolta, mudou a rotina. Pode ser que eles mudem o alvo para uma autoridade que vá despertar o mesmo interesse. Eu visitei o presídio federal de Brasília, onde está o Marcola, e é à prova de fugas. Tem uma muralha de mais de um metro de diâmetro e capaz de segurar um avião em queda, vidros blindados, fosso, é muito difícil ocorrer um resgate. Hoje é a penitenciária mais segura do país. Por isso temo pelo plano B.

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