A menos de dez meses das próximas eleições, o aplicativo de mensagens instantâneas Telegram já é uma das maiores dores de cabeça para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em 16 de dezembro, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, enviou um ofício ao diretor executivo do aplicativo, solicitando uma reunião para discutir “possíveis formas de cooperação sobre o combate à desinformação”. No documento, Barroso destacou que o tribunal tem feito “esforços significativos”, junto às plataformas, no combate à desinformação com o objetivo de assegurar eleições limpas e justas.
“Muitas dessas iniciativas se juntaram ao tribunal em sua missão de garantir que os eleitores tenham acesso a informações verdadeiras sobre o processo eleitoral, para que possam exercer o seu direito de voto de forma consciente e informada”, frisou o ministro. Uma das principais preocupações do TSE é com a disseminação de teorias conspiratórias e notícias falsas sobre a disputa eleitoral no Telegram, aplicativo que conta com mais de 550 milhões de usuários no mundo todo. Só no Brasil, o app está presente em 53% dos smartphones em funcionamento — mas não possui uma sede ou representação por aqui.
Apesar das pertinentes preocupações de Barroso, até agora o ofício não chegou ao Telegram. Em 26 de dezembro, o documento aterrissou nos Emirados Árabes, onde está a sede do aplicativo, criado pelos russos Pavel Durov e Nikolai Durov. As informações obtidas pelo TSE, no entanto, são de que a empresa está sem expediente e até que o carteiro não foi atendido por ninguém.
Com o cerco cada vez mais fechado do TSE e do Supremo Tribunal Federal (STF) às fake news e à desinformação, a militância bolsonarista tem migrado em peso para aplicativos como Gettr (criado por um ex-assessor do ex-presidente americano Donald Trump) e Telegram, considerados “terra sem lei” na esfera digital. A migração também está relacionada com um movimento de direita de boicote às plataformas, após Facebook, Instagram e Twitter proibirem publicações de Trump no ano passado.
O Telegram é conhecido no tribunal por ser uma ferramenta que não colabora em nada com a Justiça Eleitoral, diferentemente de outras plataformas, como o Facebook e o WhatsApp, que já firmaram parcerias contra a disseminação de notícias falsas. Dentro do PT, a preocupação é a de que o Telegram vire uma poderosa arma para espalhar boatos e notícias infundadas, como foi o WhatsApp em 2018. Bolsonaro já tem mais de 1 milhão de seguidores no Telegram, ante os cerca de 50 mil do ex-presidente Lula.