Trinta homens do Comando de Operações Táticas (COT), a tropa de elite da Polícia Federal, estavam a postos com suas armas para invadir o Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, para cumprir o mandado de prisão emitido pelo juiz Sergio Moro contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O diretor-geral da PF Rogério Galloro, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, narrou detalhes das negociações que culminaram com a prisão do líder petista no dia 7 de abril para cumprir sua pena de 12 anos e 1 mês de prisão pela condenação na operação Lava Jato.
Galloro contou que, quando os interlocutores de Lula pediram detalhes da logística da prisão, convenceram a PF de que havia interesse do ex-presidente de se entregar ainda na sexta (6 de abril) — o que não ocorreu. Os petistas queriam evitar a exposição do ex-presidente.
“Chegou o sábado, Moro exigiu que a gente cumprisse logo o mandado. A missa (improvisada no sindicato) não acabava mais. Deu uma hora (da tarde) e eles disseram: ‘Ele vai almoçar e se entregar'”, relata Galloro.
“No sábado, nós fizemos contato com uma empresa de um galpão ao lado, lá tinha 30 homens do COT (Comando de Operações Táticas) prontos para invadir. Ele (Lula) iria sair em sigilo pelo fundo quando alguém, lá do sindicato, foi para a sacada e gritou para multidão do lado de fora, que correu para impedir a saída. Foi um susto. A multidão começou a cercá-lo e eu vi que ali poderia acontecer uma desgraça. Ele retornou.”
O diretor-geral conta que, após isso, deu um ultimato. “Quando tem multidão, você não tem controle. Aquele foi o pior momento, porque eu percebi que não tinha outro jeito. A pressão aumentando. Quando deu 17h30, eu liguei para o negociador e disse: ‘Acabou! Se ele não sair em meia hora nós vamos entrar’. E dei a ordem para entrar. Às 18h, ele saiu.”
Galloro também manifestou sua contrariedade com a permanência de Lula na superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. “Isso não nos agrada. Nunca tivemos preso condenado numa superintendência. É uma situação excepcional. O juiz Moro me ligou, pediu nosso apoio, ele sabe que não temos interesse nisso. Mas, em prol do bom relacionamento, nós cedemos.”
Ele também explicou as restrições a visitas. “Não somos nós que organizamos isso (as regras para visitas), mas o juiz da Vara de Execuções Penais. O Lula está lá de visita, de favor. Nas nossas novas superintendências não vão ter mais custódia. No Paraná, não vamos mexer agora. Só depois da Lava Jato.”
O diretor-geral ainda comentou o vaivém de decisões do dia 8 de julho envolvendo a liberdade de Lula — ao final, o petista permaneceu preso. Galloro explicou que, após a decisão do desembargador plantonista Rogério Favreto, mandado soltar o ex-presidente, prevaleceu um telefonema de João Pedro Gebran Neto, que deu ordem para mantê-lo na PF.
“Diante das divergências, decidimos fazer a nossa interpretação. Concluímos que iríamos cumprir a decisão do plantonista do TRF-4. Falei para o ministro Raul Jungmann (Segurança Pública): ‘Ministro, nós vamos soltar’. Em seguida, a (procuradora-geral da República) Raquel Dodge me ligou e disse que estava protocolando no STJ (Superior Tribunal de Justiça) contra a soltura. ‘E agora?’ Depois foi o (presidente do TRF-4) Thompson (Flores) quem nos ligou. ‘Eu estou determinando, não soltem’. O telefonema dele veio antes de expirar uma hora. Valeu o telefonema.”
PT reage
Em nota, o PT criticou o que qualifica como “abuso de autoridade” e “violência jurídica” e afirmou que as declarações de Galloro são um retrato do sistema atual, que teria como objetivo evitar um novo mandato de Lula. “É um verdadeiro retrato do sistema podre a que estamos submetidos”, diz a o texto. “A ilegalidade da prisão de Lula e da revogação do habeas corpus concedido a ele naquele domingo (8 de julho) já haviam sido denunciadas pela comunidade jurídica. Mas é ainda mais escandalosa a desfaçatez de agentes do Judiciário e da Polícia Federal, ao expor em público sua conduta ilegal e as razões políticas que os moveram”, afirma o documento.
O partido pede que a sociedade e as forças democráticas exijam do Conselho Nacional da Justiça, do Ministério da Justiça e do Senado pronunciamentos sobre o assunto. O documento diz ainda que a sigla não vai aceitar “passivamente a perseguição política e injusta” ao ex-presidente Lula.
(com Estadão Conteúdo)