Operadores do MDB e PT são presos em ação derivada da Lava Jato
Ação apura fraudes nos fundos de pensão do Postalis e Serpros
A Polícia Federal cumpre, na manhã desta quinta-feira, 10 mandados de prisão preventiva em uma operação derivada da Lava Jato no Rio de Janeiro que apura irregularidades nos fundos de pensão dos Correios, o Postalis, e do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), o Serpros. De acordo com o Ministério Público Federal são investigados crimes ligados a corrupção, evasão de divisas e lavagem de dinheiro e contra o sistema financeiro nacional, em um esquema liderado pelo empresário Arthur Machado — alvo da operação.
Segundo as investigações, o Postalis e o Serpros fizeram aportes em um fundo de investimento constituído pelo empresário de 119 milhões de reais e 72 milhões de reais, respectivamente. Os fundos de pensão também teriam comprado títulos de dívidas (debêntures) de outra empresa ligada a Arthur Machado no total de 348 milhões de reais. Ainda conforme o MPF, uma delação premiada mostrou que os investimentos se deram em contrapartida a vantagens indevidas pagas por Arthur Machado.
“Os ilícitos têm vinculação a investimentos malsucedidos que geraram prejuízos aos fundos de pensão Postalis e Serpros”, disse a Polícia Federal em nota. “As investigações apontam que valores oriundos dos fundos de pensão eram enviados para empresas no exterior gerenciadas por um operador financeiro brasileiro. As remessas, apesar de aparentemente regulares, referiam-se a operações comerciais e de prestação de serviços inexistentes. Em seguida, os recursos eram pulverizados em contas de doleiros também no exterior, que disponibilizavam os valores em espécie no Brasil para suposto pagamento de propina”, prossegue.
Segundo o MPF, o empresário usou uma “série de sofisticados esquemas de lavagem de dinheiro” com o auxílio de doleiros ligados ao ex-governador Sergio Cabral (MDB). A defesa de Arthur Machado refutou qualquer relação entre o empresário e atos ilícitos e diz que ele sempre agiu “no mais absoluto respeito à legislação” e que não compactua com práticas ilegais.
Outro alvo é o lobista Milton Lyra, que já cogitava sua prisão nas últimas semanas, de acordo com a coluna Radar. Muito ligado a Renan Calheiros, Eduardo Cunha e Eunício Oliveira, todos do MDB, Lyra disse a um amigo que aguentaria até um ano sem delatar. Depois disso, contaria o que sabe. O lobista não foi localizado, mas segundo seus advogados ele irá se entregar.
“A defesa do empresário Milton Lyra informa que seu cliente já havia se colocado à disposição da Justiça do Distrito Federal, que apura o caso, para esclarecimento dos fatos. Ao tomar conhecimento da decisão da Justiça do Rio de Janeiro, prontamente, por meio de seus advogados, o empresário entrou em contato com a Polícia Federal para apresentar-se. A defesa assevera ainda que as atividades profissionais do empresário são lícitas, o que já foi comprovado em diversas oportunidades, e que seu cliente está e sempre esteve à disposição para colaborar com a Justiça e com a investigação.”, afirmam os advogados Pierpaolo Bottini e Alexandre Jobim, que defendem o lobista.
Também foi preso preventivamente Marcelo Sereno, assessor do ex-ministro José Dirceu até 2004 e ex-secretário nacional de comunicação do PT. De acordo com as investigações, Sereno foi indicado pela CPI dos Correios, em 2006, como responsável pelas transações financeiras operadas pelo fundo de pensão Nucleos (dos servidores das estatais de energia nuclear), tendo manipulado o fundo para desviar dinheiro diretamente para o PT.
Ainda foram emitidos 21 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal e a intimação de um investigado para prestar depoimento. As ordens foram emitidas pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro. A operação foi batizada de Rizoma, uma espécie de caule que se ramifica sob a terra. De acordo com a PF, trata-se de uma referência ao processo de lavagem de dinheiro e ao entrelaçamento existente entre as empresas investigadas. A redação busca contato com as defesas dos envolvidos.
(com Reuters)