Pena de Bolsonaro vai cair para dois anos? Os efeitos da aprovação de projeto da Câmara
O texto agora será analisado pelos senadores. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre, já avisou que pretende dar celeridade
A Câmara dos Deputados aprovou, na madrugada desta quarta-feira, 10, o PL da Dosimetria, projeto que reduz penas aplicadas a condenados pelos crimes relacionados ao 8 de Janeiro. O texto — aprovado por 291 votos a 148 — interessa diretamente ao ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado pelo STF a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e outros delitos.
Segundo o relator, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), a pena do ex-presidente pode cair para pouco mais de dois anos. O projeto segue agora para o Senado.
O que muda com o PL da Dosimetria?
A proposta nasceu como um texto de anistia ampla, mas foi alterada pelo relator após resistência na Câmara. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), ressaltou que o texto final não trata de perdão, e sim de redução de penas:
“Esse projeto não tratará de anistia, mas sim de uma possibilidade de redução de penas para essas pessoas condenadas pelo ato de 8 de janeiro.”
O ponto central do PL determina que os crimes de golpe de Estado e de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito não podem ser somados. Hoje, eles são cumulativos — e foi essa soma que levou à pena elevada de Bolsonaro.
Se cair a condenação pelo crime de tentativa de golpe — cuja pena máxima legal é de 12 anos — a redução total na condenação do ex-presidente pode chegar exatamente a esse patamar.
Como fica a situação de Bolsonaro?
Com a nova regra, a pena do ex-presidente pode sofrer um corte expressivo, abrindo caminho para progressão mais rápida de regime.
Pelas contas apresentadas por Paulinho da Força, se a pena final for reduzida para algo em torno de nove anos, Bolsonaro poderá requerer regime semiaberto após cumprir 25% da pena, caso a Justiça entenda que os crimes ocorreram sem violência ou grave ameaça — o que levaria à progressão em aproximadamente 2 anos e 3 meses.
A projeção contrasta com o cálculo feito pela Vara de Execuções Penais de Brasília na semana passada, que estimava que o ex-presidente só poderia evoluir de regime em 2033.
Mesmo sem a anistia desejada por parte de sua base, Bolsonaro autorizou a bancada do PL a votar a favor do projeto. A sinalização foi tornada pública pelo líder do partido na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).
Mudança na aplicação das penas
Como explica o colunista Robson Bonin em Radar, o projeto da Dosimetria força uma mudança de entendimento no Supremo sobre a aplicação das penas a quem cometeu os crimes de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Até o momento, o ministro Alexandre de Moraes e outros integrantes da Primeira Turma da Corte vinha interpretando que as penas previstas para os dois delitos deveriam ser somadas na conta final do tempo de cadeia dos réus.
Com a aprovação do texto, a Câmara acaba com a possibilidade de soma das pernas e estabelece a regra do “concurso formal de crimes”, pela qual a pena do crime mais grave é aplicada no julgamento, com acréscimo de um sexto até a metade.
A mudança será maior para condenados pelos ataques de 8 de janeiro — muitos serão colocados em liberdade –, que já cumprem pena e terão redução significativa. É que o texto também estabelece a progressão de regime prisional a partir do cumprimento de um sexto da pena e não mais de um quarto da pena.
A batalha no Senado
O texto agora será analisado pelos senadores. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), já avisou que pretende dar celeridade:
“Tão logo o projeto fosse aprovado pela Câmara, seria pautado também no Senado.”
Alcolumbre argumenta que o país precisa “modernizar a legislação” e corrigir lacunas da lei dos crimes contra o Estado Democrático de Direito — aprovada em 2021.
A aprovação, porém, promete mobilizar tanto governistas quanto oposicionistas. O tema é sensível e pode redefinir o horizonte jurídico — e político — do maior condenado do 8 de Janeiro.
Brasil está próximo de ter ministro de tribunal superior preso, diz senador
Cruz Azul x Flamengo: onde assistir, horário e escalações
Moradores do Retiro dos Artistas comovem com pedidos de Natal
Presidente da CCJ diz que pretende ‘enterrar’ projeto que reduz pena de Bolsonaro
Qual eleitor mais se arrepende de ter votado em Lula, segundo o Datafolha







