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Paz entre poderes lustra futuro de Maia, Alcolumbre e Flávio Bolsonaro

Acordo de pacificação é acompanhado de promessas para os caciques do Congresso e de tranquilidade para o filho Zero Um, investigado no caso das rachadinhas

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 4 jul 2020, 11h00

Reportagem de VEJA desta semana mostra a nova estratégia do presidente Jair Bolsonaro de tentar desanuviar o ambiente político e, em um movimento inédito, fazer a paz reinar na relação entre os três poderes. O esforço visa principalmente baixar a temperatura do Judiciário, que investiga o presidente da República e seus aliados, e também formar uma base de sustentação no Congresso. Além de dar fôlego ao seu governo, a bandeira branca pode servir como uma boia de salvação ao senador Flávio Bolsonaro, o filho ‘Zero Um’, alvo de investigação no Ministério Público no caso da rachadinha e de representação no Conselho de Ética do Senado – que, no limite, pode cassar o seu mandato. Os presidentes da Câmara e do Senado também têm a promessa de um horizonte favorável caso se mantenham ao lado do governo.

A aproximação com o Congresso é complexa – mas, ao menos até aqui, dá sinais de sucesso. Bolsonaro buscou o chamado Centrão por questões de sobrevivência. Ele precisa de uma base que lhe seja vital tanto para aprovar matérias econômicas quanto para barrar um eventual processo de impeachment. Foi o filho Flávio Bolsonaro que fez a articulação com os grandes caciques de centro. Primeiro, ele procurou o senador Ciro Nogueira, presidente do Progressistas e réu no petrolão – mas, agora, o que importa é estar perto de figuras influentes. Daí, iniciou-se um plano para atrair outras legendas de tamanho médio, como o Republicanos e o PL do mensaleiro Valdemar Costa Neto. Com uma vasta oferta de cargos em órgãos de orçamentos bilionários, o embarque foi fácil.

A segunda etapa do plano sempre foi tratada como mais difícil: aproximar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), do governo. De início, o próprio Bolsonaro não queria – ele sempre repetiu que Maia conspira contra a sua gestão e que impõe dificuldades de forma propositada, visando derrubá-lo em um processo de impeachment ou enfraquecê-lo para as próximas eleições. Não faria sentido, portanto, ter ao lado uma pessoa com esse perfil. O presidente da Câmara era igualmente resistente à ideia. Afinal, ele sempre foi alvo preferencial de uma série de críticas dos filhos de Bolsonaro e do próprio presidente, que insuflavam uma onda de ataques virtuais vindos da rede bolsonarista. A operação já rende frutos. Na última terça-feira, 30, Maia foi recebido com pompa no Palácio do Planalto e participou da cerimônia de prorrogação do auxílio financeiro para trabalhadores informais atingidos pela pandemia.

Para Maia, a aproximação com o governo pode mudar o seu futuro. Auxiliares palacianos e parlamentares aliados do presidente da República passaram a traçar o destino do democrata caso ele não se reeleja no comando da Câmara no ano que vem – ele sonha em continuar na Presidência, mas esbarra em regras do regimento que não permitem um novo mandato. A ideia, então, é realocá-lo em outra função de grande protagonismo. “O Rodrigo Maia é um ator forte. Se fosse um deputado que tivesse uma boa articulação com o governo, poderia ser um ministro da Fazenda, daria para dividir a Economia em duas pastas”, disse um ministro a VEJA. A mudança em seu status, claro, dependeria da boa relação de Maia com o governo até o ano que vem. “Se depender de mim, ele vai ser uma pessoa que possa ajudar o presidente. O Rodrigo tem um papel muito importante no país. Vou lutar para que tenha uma função no governo federal. O Rodrigo seria bom para tudo”, diz um parlamentar bastante próximo ao presidente da Câmara.

Aliados de Maia apontam que, por ora, ele não cogita embarcar em um projeto bolsonarista. O movimento do governo, no entanto, é visto como um relevante gesto político para manter o presidente da Câmara pacificado.

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O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, também tem um caminho florido se continuar ao lado de Bolsonaro. Segue a todo vapor a articulação para que ele consiga permanecer no comando da Casa por dois anos, em uma manobra regimental que precisa ser acatada pelo Supremo. De acordo com uma importante liderança do governo, se puder ser candidato, o parlamentar do DEM tem a eleição garantida com mais de 60 votos – e, claro, com o aval do Palácio do Planalto. Nos últimos meses, Alcolumbre passou a ser chamado de “bombeiro-mor” no Congresso, por causa da sua capacidade de apagar os incêndios entre o Planalto e o Supremo. O presidente do Senado, por exemplo, engrossou a pressão para que Abraham Weintraub fosse demitido do Ministério da Educação, forçando o gesto de pacificação do governo e, ao mesmo tempo, acenando para a Corte que pode lhe pode garantir a reeleição.

O plano de cessar-fogo também passa pela sobrevivência de Flávio Bolsonaro, alvo de investigação no esquema das rachadinhas na Assembleia do Rio de Janeiro. No último dia 25, ele participou de um jantar na casa do deputado Marcos Pereira, presidente do Republicanos, ao lado de Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre e Ciro Nogueira. Conforme relatos do encontro, que aconteceu em clima amistoso, Flávio fez uma espécie de mea-culpa, admitiu que há erros no governo e prometeu mudanças. Questionado sobre as ações do chamado gabinete do ódio, que mira especialmente os presidentes da Câmara e do Senado, ele afastou a família da responsabilidade dos ataques e ponderou que, muitas vezes, ele próprio vira alvo nas redes sociais. “Se dependesse de mim, isso não aconteceria”, disse.

Tido como um senador influente e que ajuda a abrir portas no governo, o ‘Zero Um’ tem a solidariedade do Parlamento. Ele já recebeu diversos recados de que não há nenhuma intenção do Senado em cassar o seu mandato – nem mesmo se restar comprovado o seu envolvimento direto no esquema que embolsava o salário dos servidores. O argumento é o de que os atos aconteceram enquanto era deputado estadual – e, portanto, antes do mandato de senador. “Não existe nenhuma sinalização de que se possa ter algum tipo de iniciativa que prospere Conselho de Ética. O Flávio construiu ao longo do tempo uma relação muito cordial com os membro da Casa. Ele circula bem, é muito proativo e as pessoas reconhecem o jeito afável. Não vejo nenhuma possibilidade”, disse um experiente senador. Ter como aliados figuras como Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia, claro, ajuda e muito neste processo.

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