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‘Parceiras’ da Odebrecht doaram a tucano depois de pedido de FHC em 2010

Distribuidoras ligadas à cervejeira Petrópolis, usadas pela empreiteira para 'disfarçar' doações, deram 100.000 reais à campanha de Antero Paes de Barros

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 jun 2018, 15h54 - Publicado em 8 jun 2018, 14h58
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  • Depois dos pedidos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao empreiteiro Marcelo Odebrecht por doações a candidatos tucanos na eleição de 2010, revelado por VEJA na última quarta-feira 6, duas empresas ligadas à cervejaria Petrópolis que faziam doações eleitorais “disfarçadas” a pedido da Odebrecht repassaram 100.000 reais à campanha do então tucano Antero Paes de Barros naquele ano. Paes de Barros, que se candidatou ao Senado por Mato Grosso e não foi eleito, foi um dos dois nomes pelos quais FHC pediu por “ajuda” financeira ao empreiteiro. O outro foi o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA).

    Ao contrário das empresas do Grupo Odebrecht, a Leyroz de Caxias Indústria, Comércio e Logística e a Praiamar Indústria, Comércio & Distribuição, distribuidoras ligadas ao Grupo Petrópolis, que fabrica as cervejas Itaipava e Crystal, aparecem na prestação de contas de Antero Paes de Barros em 2010. A Leyroz doou 80.000 reais ao tucano e a Praiamar, 20.000 reais (veja abaixo).

    prestacao-contas-antero-paes-de-barros
    (Reprodução/TSE)

    Na delação premiada de Marcelo Odebrecht, o empreiteiro classificou o Petrópolis como o “grande parceiro” que fazia doações oficiais disfarçadas a candidatos a pedido da Odebrecht. “Nós também fazíamos doação oficial através de terceiros, ou seja, terceiros doavam oficialmente. Um desses parceiros era a Itaipava e a gente reembolsava eles de alguma maneira”, afirmou Odebrecht. Segundo o empresário, a “parceria” com a cervejaria se iniciou em 2010.

    Outros delatores da Odebrecht, como o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior, o BJ, também relataram a relação entre a empreiteira e o Grupo Petrópolis.

    As doações das distribuidoras ligadas à cervejaria foram feitas no dia 29 de setembro de 2010, mesmo dia em que uma planilha da Odebrecht, apreendida na 23ª fase da Operação Lava Jato, atribui um pagamento de 100.000 reais a Antero Paes de Barros (veja abaixo).

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    Antero na planilha
    (Reprodução/Reprodução)

    As distribuidoras também aparecem na planilha da empreiteira, vinculadas a diversos valores (veja abaixo). Naquele ano, a Leyroz doou 4,3 milhões de reais a candidatos e a Praiamar, 1,1 milhão de reais.

    leyroz e praiamar
    (Reprodução/Reprodução)

    Em um e-mail cujo assunto é “pedido”, datado de 13 de setembro de 2010, Fernando Henrique escreveu a Marcelo Odebrecht para lembrar o empreiteiro sobre uma demanda que já havia feito a ele em um jantar, dias antes. “Envio-lhe um SOS”, apelou FHC, ressaltando que Paes de Barros estava em segundo lugar na corrida por uma cadeira de senador e enfrentava a “pressão do governismo, ancorada em muitos recursos”. Por fim, o ex-presidente passou a conta-corrente da campanha do tucano. A mensagem foi incluída em um processo que investiga o ex-presidente Lula na Lava Jato, a pedido da defesa do petista.

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    “Meu caro Marcelo: Recordando nossa conversa no jantar de outro dia, envio-lhe um SOS. O candidato ao senado pelo PSDB, Anrtero [sic] Paes de Barros, ainda está em segundo lugar, porém a pressão do governismo, ancorada em muitos recursos, está fortíssima. Seria possível ajudá-lo? Envio abaixo os dado [sic]bancários: Eleição 2010, Antero Paes de Barros Neto -senador, Banco do Brasil, agência 3325-1, conta corrente 31801-3, CNPJ 12189840/0001-23”, indicou.

    Odebrecht respondeu a FHC, tranquilizou-o e prometeu dar um retorno sobre as colaborações que a Odebrecht já havia feito a pedido do ex-presidente. “Presidente, Estou fora até amanhã, mas até 4ª dou uma olhada e retorno. Fique tranqüilo [sic] (no que depender de nós). Depois aproveito, e lhe dou o feedback dos demais apoios e reforços que fizemos na linha do que conversamos”, escreveu o empreiteiro.

    No dia seguinte ao contato eletrônico de Fernando Henrique Cardoso, Odebrecht enviou um novo e-mail ao tucano para relatar que já havia encaminhado o pedido de ajuda a Antero Paes de Barros. “Presidente, Já solicitei que fosse feito o apoio ao Antero. Vou pedir para verificarem sua disponibilidade para lhe apresentar um balanço”, resumiu o empresário.

    O dinheiro das empresas ligadas à cervejaria Petrópolis foi injetado na campanha de Antero Paes de Barros oito dias depois de 21 de setembro, quando FHC enviou a Marcelo Odebrecht o e-mail com o assunto “o de sempre”. Na mensagem, o ex-presidente reiterou o pedido por uma doação da empreiteira a Paes de Barros. O empresário Benjamin Steinbruch, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), também foi incluído entre os destinatários da mensagem.

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    “Estimados amigos: desculpem a insistência e nem mesmo sei se já atenderam o que lhes pedi, mas olhando o quadro geral, há dois possíveis senadores que precisam atenção: 1. Antero Paes de Barros, de Mato Grosso; 2. Flexa Ribeiro, do Pará. Ainda há tempo para eles alcançarem, no caso na verdade é manterem, a posição que os leva ao êxito”, pediu o tucano.

    No dia 22 de setembro, Odebrecht confirmou a FHC que a doação, ou “apoio”, a Paes de Barros seria mesmo feita. “Presidente, Já contactamos Antero, está fora, mas já sabe que iremos apóia-lo. Flexa não sei dizer, mas vou verificar”, escreveu o empreiteiro.

    Procurado pela reportagem, Antero Paes de Barros declarou que não teve contato com nenhum emissário da Odebrecht, do Grupo Petrópolis ou das distribuidoras Leyroz de Caxias Praiamar. “A doação deve ter atendido a um pedido do diretório do PSDB ou do próprio Fernando Henrique”, diz Paes de Barros. Ele ressalta que FHC informou ao empresário a conta oficial de sua campanha e que as doações foram declaradas à Justiça Eleitoral.

    Por meio de nota divulgada na última quarta-feira, FHC afirmou que o pedido “era legal”. “Posso ter pedido, mas era legal. Não se deram e não foi a troco de decisões minhas, pois na época eu estava fora dos governos, da República e do estado”.

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