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Para analistas estrangeiros, Bolsonaro é pior do que Trump

Para Steven Levitsky, presidente brasileiro é mais autoritário do que o americano, mas tem menos força para promover ataques à democracia

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 Maio 2020, 15h28 - Publicado em 29 Maio 2020, 10h30
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  • Toda vez que vira alvo de ataques na imprensa internacional, o presidente Jair Bolsonaro gosta de repetir que o seu ídolo, o presidente americano Donald Trump, também é duramente criticado. Ocorre que, pelas últimas atitudes do brasileiro no combate à pandemia de Covid-19, analistas estrangeiros passaram a vê-lo como uma versão piorada do americano.

    “Há uma clara comparação. Ambos reagiram com negação e rejeição à ciência. Mas Bolsonaro tem sido um negacionista mais consistente do que Trump, que vai e volta em seus posicionamentos. Ele também é abertamente mais autoritário do que Trump, porque tem mais laços com milícias e elementos do Exército”, diz a VEJA Steven Levitsky, professor de Ciência Política de Harvard e autor do livro Como as Democracias Morrem.

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    No início da pandemia, o cientista político Ian Bremmer, presidente global da consultoria Eurasia, já havia dito que, perto de Bolsonaro, Trump parecia Winston Churchill, o primeiro-ministro inglês que passou para a história como um dos grandes estadistas do século XX.

    Nesta semana, Bolsonaro foi tema de reportagens de uma série de veículos estrangeiros. Uma das que fizeram mais barulho – sobretudo no mercado – foi publicada por Gideon Rachman no Financial Times, considerada a bíblia do jornalismo econômico, cujo título é “Populismo de Bolsonaro está levando o Brasil ao desastre”. Ele iniciou o artigo citando uma conversa que teve com um agente do mercado financeiro, segundo a qual “Bolsonaro e Trump eram similares”, mas o brasileiro seria “mais estúpido”.

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    Com o Brasil e os Estados Unidos como o novo epicentro da Covid-19, os paralelos ficaram inevitáveis, mas há diferenças. Enquanto Trump propagandeou que estava tomando a cloroquina e declarou apoio a atos que pediam a reabertura do comércio, Bolsonaro perdeu dois ministros da Saúde por causa do remédio e participou ele mesmo de pelo menos três manifestações contra as quarentenas nos estados.

    Levitsky avalia, no entanto, que Bolsonaro não tem a mesma força de Trump, que tem apoio sólido de um grande partido e controla o Senado e governos estaduais nos Estados Unidos.

    Sobre a declaração de Bolsonaro de que a mídia estrangeira é de “esquerda”, o cientista político afirmou que se isolar em uma “bolha” contra a comunidade internacional é uma evidente característica de líderes populistas, como Juan Domingo Perón (Argentina), Hugo Chávez (Venezuela) e Recep Erdogan (Turquia), e pode lhe causar perdas significativas de popularidade entre a classe média – só não tem efeito sobre os “apoiadores hardcore”, como mostra pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira, dia 28: 33% ainda consideram seu governo ótimo ou bom.

    “Se o líder tem recursos e apoio da massa [como os três citados acima], o isolamento muita vezes por causar um ataque à democracia.  Agora, se o líder é mais fraco e não tem apoio da massa, como Bolsonaro, isso pode lhe trazer um enfraquecimento ainda maior. Bolsonaro não pode ir muito longe”, conclui Levitsky.

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