É notória a tentativa de construção de uma candidatura de centro para enfrentar Jair Bolsonaro e o PT na próxima eleição presidencial. Notória e até agora infrutífera, como dá prova a quantidade de nomes cogitados para representar os centristas em 2022. Da lista fazem parte, entre outros, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o apresentador Luciano Huck (sem partido), o eterno presidenciável Ciro Gomes (PDT) e os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Sergio Moro (sem partido). Desde a semana passada, essa relação de possíveis candidatos ganhou um reforço: o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM).
Senador de primeiro mandato, Pacheco se tornou o balão de ensaio da vez, incensado por representantes do PIB que ainda não abandonaram o governo Bolsonaro, mas que estão à procura de uma alternativa capaz de impedir a reeleição do ex-capitão. O senador entrou no radar desse segmento depois de se reunir com empresários, que deixaram o encontro tecendo elogios a ele. Pacheco conquistou pontos tanto pela forma, com sua fala mansa e tom conciliador, quanto pelo conteúdo. Desde que assumiu o comando do Senado e do Congresso, ele defende a vacinação em massa e o conhecimento científico como remédios para combater a pandemia de Covid-19 e a aprovação das reformas administrativa e tributária – e de outras medidas estruturantes – a fim de dar fôlego à recuperação econômica no “pós-crise”.
Em entrevista publicada na nova edição de VEJA, Pacheco afastou a possibilidade de disputar a Presidência da República. “Não considero nem minimamente essa hipótese”, declarou. Afirmou ainda que a construção de uma candidatura de centro dependerá da situação política em 2022, o que inclui o tamanho do prestígio de Bolsonaro e do ex-presidente Lula no ano eleitoral. “Num momento crítico do país, em que se conseguiu politizar inclusive vacina e leito de UTI, não me permito discutir eleições de 2022, sob pena de qualquer reflexão que fizer ser muito prejudicial às relações institucionais que preciso manter com todos os personagens políticos do país.”
O plano inicial de Pacheco era disputar o governo de Minas Gerais. Senadores contam que, durante a campanha pela presidência da Casa, ele se comprometeu a desistir da candidatura estadual em 2022 em troca do apoio do PSD, que pretende lançar para o governo mineiro o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. O acerto com o PSD deu certo. Contando com votos de bolsonaristas e petistas, Pacheco, um novato numa Casa de senadores experientes, acabou aclamado chefe do Poder Legislativo. A política e as eleições muitas vezes andam de mãos dadas com o imponderável e os azarões.