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Os parentes distantes de Bolsonaro que tentam despontar nas eleições

Em meio a dezenas de Bolsonaros fake na campanha deste ano, eles estreiam no jogo eleitoral ancorados no sobrenome famoso

Por Juliana Castro Atualizado em 4 jun 2024, 14h53 - Publicado em 16 out 2020, 06h00

Um erro de grafia no registro do sobrenome estrangeiro, comum em cartórios brasileiros no passado, até causa certa confusão, mas o pedagogo Marcos Antonio Borsonaro (PSL) — assim mesmo, com “R” — não esconde: é primo, ainda que distante, de Jair Bolsonaro. Animado com o desempenho eleitoral do membro mais famoso da família em 2018, decidiu, aos 58 anos, disputar pela primeira vez um mandato: com o nome na urna de Marcos Bolsonaro (com “L”), vai concorrer à prefeitura de Jaboticabal, no interior de São Paulo. A pouco menos de 300 quilômetros, em Itu, outro neófito na política — e também primo longínquo do capitão —, o dentista Marcelo Bolsonaro (DC), 45, é candidato a vice-prefeito. Marcos e Marcelo nunca estiveram com o mandatário do país e, por isso, não têm nenhuma foto com o parente célebre para propagar na campanha, mas apostam nele como um trunfo eleitoral.

Os dois fazem parte do grupo de seis candidatos que possuem laços de família com o Bolsonaro mais conhecido. Outros dois primos do presidente concorrem a vereador, também no interior paulista: a servidora pública Joseane Bolsonaro (MDB), 48, em Taiuva; e o corretor Daniel Bolsonaro Vaz (PSL), 51, em Campinas. Completam a lista nomes bem mais conhecidos: o vereador Carlos Bolsonaro, que tenta a reeleição à Câmara do Rio, mesmo lugar almejado por Rogéria Nantes Bolsonaro, ex-mulher do presidente e mãe de Carlos, Flávio e Eduardo — eles concorrem pelo Republicanos, do prefeito Marcelo Crivella.

A história dos Bolsonaro vem de longe. A família tem origem no norte da Itália, principalmente na região do Vêneto, onde se escreve Bolzonaro. Com o patriarca Angelo à frente, seis membros do clã desembarcaram no Porto de Santos em abril de 1888, entre eles Vittorio, o bisavô do presidente, então com 10 anos. O núcleo aumentou e se espalhou pelo estado — o presidente, por exemplo, nasceu em Glicério (região de Araçatuba), mas cresceu em Eldorado, no Vale do Ribeira. “Eles vieram da Itália e ficaram numa hospedaria. Trabalhavam numa fazenda em Cosmópolis, a Cascalho. Quando ganhavam dinheiro, iam saindo e comprando terras. Meus avós vieram para Taiúva”, conta Marcos Borsonaro. Por isso, há pessoas com o sobrenome espalhadas por cidades do interior paulista. Todas são parentes entre si, ainda que não saibam exatamente o grau.

NAS RUAS - Rogéria e Marcelo Bolsonaro: a ex-mulher do presidente busca a eleição no Rio; o primo distante tenta ser vice-prefeito em Itu – (Instagram/Daniel Nápoli/Jornal Periscópio/.)

Embora possa se beneficiar do parentesco, a parcela do clã com aspirações políticas ganhou uma concorrência fortíssima no pleito de novembro. Uma proliferação de Bolsonaros fake vai disputar a próxima eleição. Nada menos que 91 postulantes adotaram o sobrenome do presidente. “O pessoal está surfando na onda, acho que não deveria ser assim”, diz Marcos Borsonaro, contrariado com a multiplicação da família nas urnas. É no PSL dele que se concentra a maioria dos Bolsonaros na campanha: 22. O restante está distribuído por dezoito partidos, a maior parte, claro, em legendas da direita. A estratégia de usar um nome famoso para angariar votos não é algo que envolva só o atual presidente. Neste ano, 179 candidatos usam “Lula”, em referência ao ex-presidente petista.

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Seja verdadeiro, seja fake, no entanto, a regra geral dos Bolsonaros é de alinhamento ideológico com o presidente. Enquanto Marcos Borsonaro promete a criação de uma escola cívico-­militar para resgatar a “honra pela pátria, valores e cidadania” em Jaboticabal, Marcelo Bolsonaro quer implantar em Itu uma grade curricular que valorize os bons costumes, com a volta da disciplina de educação moral e cívica, que existia na ditadura militar. Por enquanto, Carlos, o filho Zero Dois, é o único Bolsonaro que o presidente apoia abertamente: até doou 10 000 reais a ele. Como parece ser um hábito da família, o depósito veio integralmente em dinheiro vivo, mas depois a operação foi estornada e refeita por via eletrônica (o TSE estipula um limite de 1 064 reais para doações em dinheiro vivo).

Enquanto isso, os outros “membros” do cada vez mais numeroso clã se contentam em fazer uso do sobrenome. Daniel Bolsonaro, por exemplo, lamenta nem poder utilizar a imagem do presidente porque ele saiu brigado do PSL, seu partido. Na pré-campanha, chegou a usar fotos ao lado do capitão, com quem esteve por alguns minutos. Agora, limita-se a garantir no corpo a corpo das ruas que é “Bolsonaro legítimo”. Para alguns adversários do presidente, vítimas de inúmeras maldades via redes sociais, o fato de a família ser alvo de fake news é uma grande ironia.

Publicado em VEJA de 21 de outubro de 2020, edição nº 2709

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