Onyx Lorenzoni: cada vez menor no governo
O chefe da Casa Civil conseguiu unir uma legião de insatisfeitos com a atuação dele no cargo, incluindo o presidente da República

Chefiar a Casa Civil sempre foi sinônimo de poder e prestígio. A pasta, tradicionalmente, é responsável pela articulação política com o Congresso, pela negociação de cargos e verbas com os parlamentares e pelo acompanhamento dos principais projetos do governo — o que confere ao nomeado a força de um primeiro-ministro. Além disso, o escolhido para a missão é sempre alguém que goza da mais absoluta confiança do presidente da República, o que lhe garante o prestígio. Para essa função estratégica, Jair Bolsonaro indicou o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Na semana passada, o ministro teve de interromper suas férias no exterior para voltar para Brasília e explicar por que um de seus assessores andava abusando de mordomias nos jatos da Força Aérea — um problema prosaico que revelou o real tamanho de seu prestígio.
Sem ouvir Onyx, o presidente mandou demitir quase uma dezena de funcionários do ministério e anunciou, pelo Twitter, que estava retirando da Casa Civil o Programa de Parceria de Investimentos (PPI), que prevê uma série de obras e privatizações, a última joia da coroa da pasta. No ano passado, Bolsonaro já havia transferido para o general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, a articulação política. Onyx, que já tinha perdido uma perna, perdeu a outra — e não está livre de perder também a cabeça. A situação do ministro é bastante delicada, de acordo com o que o presidente tem relatado a pessoas próximas. Num ambiente naturalmente contaminado por intrigas, a gestão de Onyx ainda tem angariado críticas pesadas de colegas de outras pastas, principalmente do general Ramos e de Jorge Oliveira, chefe da Secretaria-Geral da Presidência, e também de Paulo Guedes, da Economia, e Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura.

Onyx e Ramos andaram se estranhando diretamente. O chefe da Casa Civil, ao perder o controle da articulação política, não forneceu ao colega o mapa das indicações feitas por parlamentares para cargos da administração pública. O general reclamou de que o governo ficou, durante um bom tempo, sem uma arma importante para monitorar o apoio nas votações no Congresso. Nessa lista de cargos, soube-se depois, havia muitas indicações do próprio Onyx e de parlamentares que estavam votando contra os projetos do governo. Além disso, alguns deputados e senadores começaram a aparecer no Planalto para cobrar o cumprimento de compromissos. Mesmo sem autorização, Onyx teria continuado negociando emendas com os parlamentares. “Ele se comprometeu a liberar um volume de emendas muito maior do que de fato foi liberado”, conta o mesmo assessor do presidente.

As relações entre Onyx e Jorge Oliveira, que nunca foram boas, também se deterioraram. Quando ocupava a subchefia para assuntos jurídicos, o atual comandante da Secretaria-Geral nunca aceitou muito bem o fato de ser subordinado à Casa Civil. Os dois já haviam se desentendido durante o governo de transição. Promovido a ministro, Jorge Oliveira é quem tem reportado ao presidente as reclamações que recebe contra a atuação do colega. Na reunião que teve com Bolsonaro, logo depois de voltar para o Brasil, Onyx minimizou o caso do jatinho: “Nós nem conversamos sobre isso”. Também disse que sua situação “não mudou nada” e que “as coisas vão continuar seguindo seu rumo normal”. Desde que perdeu a função de articulador político do governo, o ministro passou a se dedicar a interlocuções regionais, especialmente no Rio Grande do Sul, seu domicílio eleitoral. O ministro não esconde de ninguém o desejo de se candidatar ao governo do estado em 2022. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Bolsonaro disse que dará “cartão vermelho” a quem estiver usando o cargo para fazer campanha eleitoral.
Na edição anterior, VEJA revelou que, dos treze voos nacionais realizados pelo ministro com aeronaves da FAB em 2019, oito foram para o Rio Grande do Sul. Embora essas viagens tenham sido a “serviço do governo”, Onyx montou agendas de olho no eleitorado gaúcho. Emendando o fim de semana e na companhia da esposa, o ministro visitou prefeituras, vinícolas e hospitais. Foi graças à intervenção de Onyx que a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) inaugurou, em setembro do ano passado, um escritório na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Antes de perder o comando do Programa de Parceria de Investimentos, o ministro disse a um grupo de empresários gaúchos que testaria um projeto piloto que levaria muitos recursos para o estado. Esse empenho institucional do ministro já virou motivo de piada. No Planalto, alguns assessores do presidente costumam brincar que o chefe da Casa Civil, cada vez menor na escala de poder, se rendeu definitivamente ao bordão oficial “Mais Brasil, menos Brasília” — no caso de Onyx, com mais Rio Grande do Sul, de preferência a bordo de um jatinho.
Publicado em VEJA de 12 de fevereiro de 2020, edição nº 2673
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