Considerado um dos políticos mais promissores da nova geração, Eduardo Leite, de 36 anos, sonhou com a possibilidade de chegar ao Palácio do Planalto. Depois de perder as prévias para João Doria, o gaúcho recusou fazer parte do staff da campanha à Presidência do governador paulista e vem dando declarações que colocam em dúvida a viabilidade dele na disputa. Embora insatisfeito, Leite continua negando a vontade de bater asas do ninho, mas é fato que o cortejo a ele de algumas siglas, em especial o PSD de Gilberto Kassab, aumentou muito nas últimas semanas (Kassab, aliás, segue firme em seu projeto de implodir a terceira via e se aliar a Lula nos próximos meses).
Apesar das declarações jurando fidelidade ao PSDB, chama atenção na cúpula do partido que Leite não se preocupe em fazer gestos claros de que está imune ao assédio de siglas rivais. O próprio Leite, aliás, deixa aberta a possibilidade de uma volta ao páreo presidencial por um outro caminho político. Em entrevista a VEJA, ele confirmou as conversas com Kassab, mas negou que tenha recebido qualquer convite do PSD para concorrer ao Palácio do Planalto. “Eu não me movimento buscando uma candidatura nem vou desrespeitar as prévias do PSDB”, afirmou Leite. “Mas, se não houver competitividade nos próximos meses, acho que o partido e outras lideranças que tenham proximidade conosco precisam buscar alternativas. Não estou dizendo que deve ser o meu nome, mas, se entenderem que seja, estarei à disposição”, completou.
Enquanto ainda é citado nos bastidores da política como uma possível alternativa presidencial de centro, Leite tem desafios domésticos consideráveis. Atual governador do Rio Grande do Sul, ele seria o favorito a um novo mandato no estado, mas não está no páreo por ser contra a reeleição. Fora da disputa, corre um risco considerável de não conseguir emplacar um sucessor. Dentro do Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, o desafio é transferir para um candidato os bons índices de aprovação à gestão de Leite, marcada por medidas de austeridade que recuperaram, minimamente, diga-se, as contas do estado e permitiram investimentos (alguns poucos). “Tenho convicção de que isso fará diferença para encaminhar a continuidade de nosso projeto”, acredita.
Até agora, porém, não houve sequer a definição de quem será o nome da situação no pleito. O vice, Ranolfo Vieira Júnior, também do PSDB, conta com o apoio do governador. Nas pesquisas, no entanto, ainda não deslanchou. Aparece entre os últimos colocados, com 2% das intenções de voto. Por isso, dirigentes do partido defendem o nome da prefeita tucana de Pelotas, Paula Mascarenhas, como candidata à sucessão. Ela foi vice de Leite no município e depois foi eleita e reeleita para comandar a cidade. Outra possibilidade que começa a ganhar força é a de o PSDB não encabeçar a chapa. Nesse caso, o nome sairia do MDB, o principal aliado do atual governo. Na disputa estadual, o partido tenta chegar a um consenso entre o nome do deputado federal Alceu Moreira, presidente da sigla no estado, e o do deputado estadual Gabriel Souza, que conta com a simpatia de Leite por ter levado adiante pautas de interesse do Executivo enquanto presidiu a Assembleia em 2021. O indicado do partido seria candidato natural a encabeçar a chapa da situação do Palácio Piratini, caso os tucanos realmente abram mão da vaga.
Enquanto o PSDB não acerta, a oposição começa a ganhar terreno. A tradição conta também pontos a favor: desde a redemocratização, nenhum governador conseguiu se reeleger ou fazer um sucessor por lá. Um dos líderes das pesquisas, o ministro Onyx Lorenzoni, de mudança do DEM para o PL, se projeta como representante do bolsonarismo em um estado onde o presidente conserva melhores índices de popularidade que a média nacional. Onyx não está sozinho no campo à direita, já que o senador Luis Carlos Heinze (PP) quer aproveitar sua participação na CPI da Pandemia, onde se notabilizou por uma absurda retórica anticiência. Os dois, entretanto, detêm as maiores taxas de rejeição, segundo pesquisa Real Time Big Data: 42% para Onyx e 39% para Heinze. “É a eleição mais aberta que temos em muito tempo no estado”, afirma Juliano Corbellini, doutor em ciência política pela UFRGS e consultor em marketing político. Igualmente aberto parece estar o destino político do jovem governador gaúcho.
Publicado em VEJA de 9 de fevereiro de 2022, edição nº 2775