O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira 24, durante viagem à China, que não recebeu nenhuma informação sobre o vazamento de áudio no qual Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), trata de cargos na Câmara e no Senado. “Não sei dessa informação, mas por favor, por favor… O Queiroz cuida da vida dele, eu cuido da minha. Minha preocupação aqui é tratar das questões que envolvem todos nós, brasileiros”, disse ao ser questionado por uma jornalista.
Em um áudio revelado pelo jornal O Globo, Queiroz conversa sobre indicações no Congresso Nacional por meio de comissões ou gabinetes de parlamentares, não apenas em cargos relacionados aos filhos do presidente Jair Bolsonaro, e descreve a rotina do gabinete do senador Flávio Bolsonaro, de quem foi assessor.
“Tem mais de 500 cargos lá, cara, na Câmara, no Senado. Pode indicar para qualquer comissão, alguma coisa, sem vincular a eles [família Bolsonaro] em nada. Vinte continho pra gente aí caía bem pra c. entendeu? Não precisa vincular a um nome. Chega lá e pô, cara, no gabinete do Flávio faz fila de deputados e senadores, o pessoal para conversar com ele. Pô, é só chegar, meu irmão, nomeia fulano aí pra trabalhar contigo. Salariozinho bom desse aí, cara, pra gente que é pai de família, p. que pariu, cai igual uma uva”, diz.
Bolsonaro e Queiroz têm uma relação de amizade – eram companheiros de pescaria -, mas o principal fato envolvendo ambos é o repasse de R$ 24.000 mil em dez cheques para a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Segundo presidente Queiroz lhe devia dinheiro – R$ 40.000 – e fez o pagamento a sua esposa. “Emprestei dinheiro para ele em outras oportunidades. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24.000, foram R$ 40.000. Se o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, que repassou a informação ao Ministério Público do Rio) quiser retroagir um pouquinho mais, vai chegar nos R$ 40.000”, afirmou. Bolsonaro disse ainda que poderia ter colocado o dinheiro em sua conta, dividido em dez cheques de R$ 4.000 por Queiroz, mas que o valor foi destinado à conta de Michelle porque ele “não tem tempo de sair”. “Essa é a história, nada além disso. Não quero esconder nada, não é nossa intenção”, completou. Jair Bolsonaro disse ser amigo de Queiroz, que ele conheceu em 1984 na Brigada Paraquedista. Ele afirmou que recebeu surpreso o conteúdo do relatório do Coaf sobre o volume das transações financeiras suspeitas.
Desaparecido após passar como um cometa pela seara de escândalos nacionais, Queiroz teve seu paradeiro revelado pela revista VEJA. A reportagem mostra que ele hoje vive no Morumbi, em São Paulo, e frequenta o hospital Albert Einstein para tratar um câncer de intestino — que se agravou. Mesmo com o ex-assessor fora dos holofotes, sua situação sempre foi tratada com prioridade na família Bolsonaro. Embora tenha se afastado dele publicamente, o presidente traçou estratégias no campo jurídico e político para as suspeitas não prejudicarem seu mandato.
Suspeito de ser o operador do esquema conhecido como “rachadinha”, Queiroz trabalhou no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) quando ele era deputado na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) de 2007 a 2018. Ao longo de 2016, o ex-assessor movimentou 1,2 milhão de reais em sua conta bancária, com uma série de saques e depósitos fracionados considerados atípicos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf)
O senador foi alvo de um procedimento aberto pela Promotoria estadual no ano passado, com base em relatórios Coaf. Mas uma decisão do ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, suspendeu todas as investigações a respeito de Flávio e Queiroz baseadas no compartilhamento de dados bancários e fiscais com o Ministério Público sem autorização do Poder Judiciário.
O advogado de Queiroz, Paulo Klein, afirmou que seu cliente nunca cometeu nenhum crime e que não há nada de errado em eventuais indicações. “A defesa técnica de Fabrício Queiroz vê com naturalidade o fato dele ser uma pessoa que ainda detenha algum capital político, uma vez que nunca cometeu qualquer crime, tendo contribuído de forma significativa na campanha de diversos políticos no estado do Rio de Janeiro. Portanto, a indicação de eventuais assessores não constitui qualquer ilícito ou algo imoral, já que, repita-se, Fabrício Queiroz jamais comeu qualquer ato criminoso”. Ao jornal, Flávio negou que tenha aceitado indicações do ex-assessor e que mantenha contato com ele desde o ano passado.