No fim do ano passado, o ministro da Economia Paulo Guedes sugeriu a Jair Bolsonaro nomear Rogério Marinho, responsável pelas articulações da reforma da previdência, para o cargo de chefe da Casa Civil. Ex-deputado federal e com bom trânsito no Congresso, Marinho era visto como um candidato ideal para assumir um posto estratégico no Palácio do Planalto. No entanto, o presidente decidiu colocá-lo no Ministério do Desenvolvimento Regional. De lá para cá, Guedes e Marinho se desentenderam sobre as medidas econômicas adotadas durante a crise da pandemia da Covid-19 — e se tornaram adversários declarados.
Em meio à disputa dos dois ministros, Bolsonaro desempenhava um papel de equilibrista: não quer que a roupa suja seja lavada em público, mas, nos bastidores, incentiva a competição. Para provocar o seu Posto Ipiranga, o presidente costuma brincar: “E aí, PG, você ainda quer indicar o Marinho para a Casa Civil?”. Guedes, bem ao seu estilo, costuma dizer que sente saudade de Gustavo Canuto, antecessor de Marinho no ministério do Desenvolvimento Regional e que foi demitido por ter muita proximidade com políticos do Centrão. “Canuto era pivete. Marinho é chefe de gangue”, responde o ministro da Economia, que sempre reforça que só ataca o Marinho pela frente.
Guedes nunca engoliu a tentativa de Marinho de lançar o programa desenvolvimentista Pró-Brasil, que previa destinar 150 bilhões de reais em obras de infraestrutura. A ideia contou inicialmente com o apoio da ala militar do governo. “Marinho é perigosíssimo. Ele é capaz de ferrar com o Brasil todinho”, disse o ministro da Economia recentemente a uma pessoa próxima.
Em outros tempos, brigas como essa poderiam até provocar demissão, seja de um ministro ou de outro. Mas no governo Bolsonaro esse tipo de assunto, agora, é tratado como piada, conforme mostra uma reportagem de VEJA publicada na edição desta semana. Por trás dessa disputa, há uma discussão séria sobre se o Brasil deve gastar mais para sair da crise, tese pregada por Marinho, ou ter maior controle das contas públicas, posição defendida por Guedes. De olho em sua reeleição, o presidente tenta manter um pé em cada canoa — e assim pacificar os conflitos internos da sua equipe.