No início do mês, o MST invadiu a sede do Incra em Alagoas. Como sempre, o movimento justifica o ato como um legítimo protesto em defesa da reforma agrária. Esse caso, porém, tem uma peculiaridade. Os sem-terra exigem a demissão do superintendente do órgão no estado, César de Lira, primo do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL). O Ministério do Desenvolvimento Agrário já promoveu uma série de mudanças na pasta por exigência do MST. Nesse caso, porém, o governo não quer criar atritos com o Lira mais famoso. Pressionado, o sobrinho também garante que não pretende ceder:
O senhor está no Incra desde 2017 e o MST quer retirar o senhor do cargo de superintendente. O Incra de Alagoas tem hoje um dos melhores resultados do país. Entra na página do MST na internet e olha a comemoração dos 25 anos do Pronera, o programa de educação no campo, na mesa há um cidadão de blazer azul escuro, com camisa azul, calvo. Essa pessoa sou eu. O primeiro e único curso de nível superior do estado de Alagoas foi trazido por nós. A gente às vezes não entende o que eles querem. Exoneração e nomeação tem que ser tratada por Brasília.
O senhor já pensou em pedir demissão? A gestão pública deve ser feita com responsabilidade, a gente não faz gestão pública com militância. As metas institucionais do governo federal foram todas cumpridas. De 2017 a 2022, o resultado do Incra no estado de Alagoas é 980% superior ao resultado de 2010 a 2016. Isso não sou eu que estou dizendo, são números do TCU.
Por que os manifestantes então exigem sua demissão? No estado de Alagoas, as áreas do MST que não foram demarcadas a gente demarcou, créditos foram pagos, regularizações foram feitas. Para mim também é motivo de surpresa, pois atendemos todas as pautas deles. Eles ainda estão no clima de polarização das eleições. O MST cismou comigo porque sou agropecuarista.
O fato de ser primo do presidente da Câmara tem algo a ver com isso? A ligação familiar é inegável. O estado de Alagoas sabe e agora todo o país também sabe. Mas os resultados aqui falam por si só. Espero continuar na gestão para poder ajudar o governo.