Há pouco mais de dois anos, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) sofreu uma dura derrota política ao perder a disputa pela Presidência do Senado para o candidato apoiado pelo Palácio do Planalto, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Submergiu e viu se esvair parte do protagonismo político de outrora até que a CPI da Pandemia, instalada em abril, o posicionou novamente entre os parlamentares mais influentes do Congresso. Como relator da comissão de inquérito, Calheiros agora quer utilizar as investigações sobre a atuação do governo no enfrentamento do vírus também com um objetivo específico: emparedar o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).
Renan não esconde a mágoa de ter sido chamado de “vagabundo” pelo Zero Um na sessão da CPI que, em maio, ouvia o ex-chefe da Secretaria de Comunicação do governo Fabio Wajngarten. Em entrevista a VEJA, Wajngarten disse que tentou negociar diretamente com a Pfizer a aquisição de vacinas anti-Covid diante do que classificou como “incompetência” do Ministério da Saúde, na época comandado pelo general Eduardo Pazuello. Para além de se vingar da agressão verbal, o relator tem planos maiores para desgastar Flávio e se tornar uma pedra no sapato do primogênito do presidente.
Por ordem de Renan, uma equipe restrita, de não mais de sete pessoas, passou a esquadrinhar a rede de conexões de Flávio e buscar indícios de irregularidades, lobby e advocacia administrativa por parte do senador. Uma sala em sua casa, em Brasília, foi reservada para reuniões mais sensíveis, onde um mural montado para traçar as conexões do parlamentar é atualizado a cada descoberta. Nele, o nome de Flávio é relacionado aos advogados Frederick Wassef e Willer Tomaz, ao empresário Francisco Emerson Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, intermediadora na compra da vacina indiana Covaxin, e a mais 30 nomes.
Para municiar suas investigações, nos últimos dias, por determinação de Calheiros e com o aval do presidente do colegiado Omar Aziz (PSD-AM), foram disparados requerimentos administrativos, que não são submetidos à votação dos senadores, à Receita Federal com pedidos para que sejam listadas empresas, documentos e relações societárias de alvos como Wassef e de Tomaz.
O modus operandi da CPI para tentar comprometer o Zero Um também já foi aplicado desde o início dos trabalhos contra o líder do governo Ricardo Barros (Progressistas-PR), acusado pelo deputado Luís Miranda (DEM-DF) de ter pressionado para acelerar a compra da Covaxin e de ter participado de uma reunião em que teria sido discutido o pagamento de propina para desembaraçar a compra do imunizante. No início de maio a equipe técnica da CPI conseguiu identificar as digitais de Barros nas transações hoje alvo de suspeitas. O deputado já foi convocado para prestar esclarecimentos à comissão e, antevendo desgaste ainda maior com o cruzamento de mais informações em poder de Calheiros, recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para falar à CPI o mais rápido possível.