Fiador da oposição como relator da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que colou em Jair Bolsonaro o epíteto de “genocida” na condução do país durante a pandemia de coronavírus, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) tem um duplo objetivo ao se apresentar como candidato a “homem-chave” da provável CPI do 8 de janeiro, cuja criação foi oficializada na quarta-feira, 26.
Além de marcar posição contra o desafeto político e presidente da Câmara Arthur Lira (Progressistas-AL), que trava uma briga pessoal contra o alagoano pela indicação da relatoria, Calheiros fez chegar ao Palácio do Planalto que ele repetiria a dose contra o bolsonarismo na nova CPI e tem experiência suficiente para fazer “a investigação que precisa ser feita”.
A relatoria de uma CPI é o posto mais importante do colegiado por decidir os rumos da apuração, elencar quem e quando cada alvo deve se apresentar para ser interrogado e redigir o relatório final que listará culpados e crimes pelos atos de que depredaram as sedes dos três poderes.
O duelo político entre Renan e Lira leva em conta o fato de a comissão de inquérito ser mista e, portanto, tanto senadores quanto deputados terão assento como titulares e ambos terem a ambição de emplacar postos-chave, como o presidente e o relator. Renan trabalha em nome próprio e Lira tentou apadrinhar André Fufuca (Progressistas-MA) e depois Arthur Maia (União-BA), considerados homens de confiança do parlamentar e seus olhos no andamento das investigações.
Na noite de segunda-feira, 24, o Palácio do Planalto contabilizava que Calheiros havia perdido a batalha para Lira, mas o cenário se reverteu no dia seguinte, quando um aparente acordo para que coubesse a um deputado a relatoria dos trabalhos foi desfeito. Na sequência, nova reviravolta e a retomada das pressões de Lira para indicar pelo menos o presidente da CPI.
A CPI terá 32 cadeiras. Pelos cálculos preliminares do governo, pelo menos 21 da base de apoio ao Planalto, sendo parte deles integrantes do “blocão de Lira”, um amontoado de partidos – Progressistas, União Brasil, PDT, PSB, Solidariedade, Avante, Patriota e PSDB-Cidadania – capitaneado pelo presidente da Câmara em reação ao superbloco de mais de 140 deputados formado pelo MDB, PSD, Republicanos, Podemos e PSC.