Nomeado nesta terça-feira, 22, para chefiar a Fundação Saúde no Rio, em nome de uma reestruturação, o médico Marcus Vinicius Dias é mais um nome ligado ao grupo político do deputado federal Dr. Luizinho a chefiar o órgão. A entidade, que tinha em seu alto escalão uma irmã do parlamentar, foi a responsável por firmar contratos com o PCS Lab Saleme, laboratório que está no centro do escândalo das infecções por HIV após transplantes de órgãos no estado.
Até então, a fundação, um braço da Secretaria de Saúde fluminense, tinha como diretor-executivo João Ricardo da Silva Pilotto. Já a diretoria de Técnica Assistencial, Jurídica e de Planejamento e Gestão era chefiada pela irmã de Dr. Luizinho, Debora Lucia Teixeira Medina de Figueiredo. Ela, Pilotto e os outros quatro membros da cúpula da instituição tiveram sua exoneração publicada no Diário Oficial do Estado também nesta terça-feira.
Ao anunciar as mudanças, o governador afirmou que a nomeação “corrobora com a transparência e segurança com que estamos atuando desde o início das investigações sobre o caso”. “A mudança também assegura que não haja interferências internas nas apurações que estão sendo realizadas”, disse Castro.
Agora à frente da fundação, no entanto, Marcus Vinícius Dias há um ano compartilhou em seu perfil nas redes sociais uma entrega para melhorias na infraestrutura do Hospital Estadual Azevedo Lima, onde ocupava até então cargo de diretor-geral. No texto da publicação, agradeceu ao então secretário de Saúde Dr. Luizinho “pela oportunidade de participar deste momento, bem como ao governador Cláudio Castro pela escolha acertada de seu secretário”.
Em outra publicação, esta de outubro de 2019, Dias aparece outra vez ao lado de Dr. Luizinho em vídeo na inauguração do espaço Alberto Baldissara, no Instituto Vital Brazil, que aconteceu no ano anterior. No post, o agora presidente da Fundação Saúde se refere ao deputado federal como um “amigo”.
O parlamentar, que comanda o Progressistas no Rio, chefiou a pasta da Saúde fluminense por cerca de um ano, até setembro de 2023. Mas até hoje mantém grande influência sobre a secretaria, além de ter relação próxima do governador. Castro, inclusive, chegou a cogitar lança Dr. Luizinho como seu sucessor ao governo do estado em 2026.
Dias, que agora assume a presidência da Fundação Saúde, é servidor de carreira do Ministério da Saúde há 15 anos. Na pasta em âmbito federal, foi secretário-executivo, além de ter ocupado o cargo de diretor-geral dos hospitais federais. Hoje, integra ainda o quadro de conselheiros de administração da Cedae.
Os laços do parlamentar com o caso
Deputado federal desde 2019, Luiz Antônio Teixeira Júnior, o Dr. Luizinho, tem trajetória política ligada à área da saúde. Médico de formação, hoje ele comanda o Progressistas em território fluminense e é líder do PP na Câmara, em Brasília, graças ao bom relacionamento com o líder nacional da sigla, Ciro Nogueira. Atuou de 2013 a 2015 como secretário municipal de Saúde de Nova Iguaçu (RJ), cidade onde fica a sede do PCS Lab Saleme. Em janeiro do ano passado, comandou pela segunda vez a Secretaria de Estado da Saúde na gestão de Castro, cargo que deixou em setembro. Desde o final de 2022, o laboratório recebeu 21,2 milhões de reais dos cofres estaduais. Mas apenas em fevereiro do ano passado a empresa passou a ter vínculo formal com o governo para atender Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Boa parte desse montante, contudo, foi pago com dispensa de licitação. A ligação entre o estado e o laboratório cresceu justamente quando Dr. Luizinho era secretário estadual. Em nota divulgada, o deputado destacou que, embora conheça a empresa, não participou de sua escolha — até porque a contratação ocorreu quando ele já havia deixado a pasta. Walter Vieira, um dos sócios que assinou um dos laudos fraudados, por sua vez, é casado com a tia do deputado. Já Matheus Vieira, levado à delegacia para prestar esclarecimentos, é filho de Walter e, portanto, primo do parlamentar.
O laboratório PCS Lab Saleme é investigado depois que seis pessoas foram infectadas por HIV, após receberem órgãos de dois doadores soropositivos que, no entanto, tiveram seus testes para o vírus classificados como negativos em laudos da empresa. O diagnóstico permitiu que os transplantes fossem feitos.