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Nova direção da CNBB quer abrir ‘canal de diálogo’ com Bolsonaro

Em fevereiro, relação foi abalada após vazamento de relatório de inteligência que classificava como 'de esquerda' evento católico sobre a Amazônia

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 8 Maio 2019, 15h39 - Publicado em 8 Maio 2019, 14h36

A julgar pelo perfil dos bispos eleitos durante a 57ª Assembleia-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reunida em Aparecida (SP) até sexta-feira, 10, a Igreja manterá sua atuação, sem “rupturas”, reafirmando posicionamentos já conhecidos.

Além de seguir a tradição de marcar uma audiência da cúpula com o papa Francisco, a presidência recém-eleita da CNBB pretende se reunir com o presidente Jair Bolsonaro (PSL). O objetivo do encontro é abrir um “canal de diálogo” com o governo e discutir temas voltados à Igreja.

Segundo bispos, eventuais diferenças ideológicas existentes na Igreja são pouco perceptíveis e insuficientes para dividir os integrantes do episcopado entre “conservadores e progressistas”. Os bispos disseram ainda evitar essa “classificação”, sob o argumento de todos concordam em questões de moral e doutrina.

Na segunda-feira 6, o arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, baiano da cidade de Cocos, foi eleito o novo presidente da CNBB para os próximos quatro anos. Dois vice-presidentes – dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS), e dom Mário Antonio Silva, bispo de Roraima –, também foram escolhidos na assembleia-geral.

Doutor em teologia dogmática, dom Walmor foi transferido para Belo Horizonte em 2004. Considerado homem de diálogo, sempre trabalhou em união com seus bispos auxiliares.

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Arcebispo emérito de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis afirmou que, independentemente da troca da cúpula da conferência, a Igreja “não vai mudar”, mantendo o olhar dirigido aos “pobres, negros, indígenas, quilombolas, sem-teto e aos desprotegidos”. Segundo ele, a Igreja vai intervir se alguma dessas populações “sofrer ameaças ou correr riscos com novas políticas de governo”.

Dom Raymundo, que foi duas vezes presidente da CNBB, citou o documento Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019-2023, aprovado na segunda-feira pelo episcopado. Com base nessas diretrizes, disse dom Raymundo, a Igreja vai atuar, “buscando contato com autoridades e reafirmando posições, como sempre tem feito”. “Isso não depende da opinião de um ou de outro membro da diretoria da CNBB”, declarou.

O arcebispo de Salvador, dom Murilo Krieger, foi na mesma linha. “A publicação de uma nota não depende da assinatura de todos os membros da diretoria.” Ele defendeu a independência da Igreja. “Igreja é igreja, governo é governo”. Defensor da causa indígena e de questões ligadas à terra, dom Erwin Krautler, bispo do Xingu, afirmou que ficou satisfeito com os nomes escolhidos na assembleia em Aparecida. Disse que não haverá ruptura de compromissos e que os “ideais” da Igreja estão mantidos.

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Sínodo

Arcebispo emérito de São Paulo, dom Cláudio Hummes, relator-geral do Sínodo da Amazônia, foi questionado sobre a preocupação do Planalto com o que considera “agenda de esquerda” por parte da Igreja. Segundo ele, após conversas com generais, o caso está superado.

À época, informes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e dos comandos militares relataram encontros de cardeais brasileiros com o papa Francisco, no Vaticano, para discutir a realização do sínodo. A inteligência do governo manifestou a preocupação com eventuais ameaças à soberania nacional por parte da pauta do encontro. Dom Leonardo Steiner, então secretário-geral da CNBB, afirmou que o sínodo era “da Igreja para a Igreja” e que não dizia respeito às autoridades.

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