Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram pelo menos cinco fazendas em diferentes estados na manhã desta terça-feira. Entre as terras ocupadas estão supostas propriedades do ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ricardo Teixeira, do Coronel Lima, amigo do presidente Michel Temer (PMDB) e do presidente do PP, senador Ciro Nogueira.
Segundo o MST, as terras invadidas estão relacionadas a “processos de corrupção ou a corruptos”. O movimento informa que as áreas são ocupadas por trabalhadores rurais, que exigem a destinação das fazendas para assentamentos familiares.
O grupo também protesta pela violência no campo, que teria feito 68 vítimas em 2017, incluindo treze jovens, seis mulheres, treze indígenas e quatro quilombolas.
“Os latifundiários que possuem essas áreas são acusados, no cumprimento de função pública, de atos de corrupção, como lavagem de dinheiro, favorecimento ilícito, estelionato e outros”, afirma o MST. O movimento também se posiciona a favor do “afastamento imediato” de Michel Temer da Presidência e pede a convocação de eleições diretas.
A fazenda do ministro é um dos latifúndios do Grupo Amaggi em Mato Grosso, a 210 quilômetros da capital Cuiabá e a cerca de 25 quilômetros de Rondonópolis. Em nota, o MST menciona a fortuna da família Maggi, que, “segundo a revista Forbes de 2014, ocupava o sétimo lugar no ranking entre as maiores famílias bilionárias do Brasil, com uma fortuna estimada em 4,9 bilhões de dólares”, e afirma que a fazenda é fruto da apropriação de terras públicas.
Por meio de nota, o Grupo Amaggi confirmou a invasão da Fazenda SM02-B, em Rondonópolis, com extensão de 479,7 hectares. A empresa diz que está preocupada com a integridade física dos 17 colaboradores que moram no local e tomará providências para garantir a segurança deles. Ao mesmo tempo, a companhia “está buscando os meios legais para restabelecer a ordem em sua unidade produtiva”, diz a nota.
Mais de 350 famílias ocupam a fazenda Santa Rosa, em Piraí, no sul do Estado do Rio de Janeiro, que é citada pelo MST como sendo do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, “notório denunciado e indiciado em casos de corrupção”. A nota do movimento cita investigações contra Teixeira por estelionato e lavagem de dinheiro e alega que “muitas destas lavagens de dinheiro passam pelo contexto da aquisição e valorização especulativa de grandes extensões de terras”. A propriedade tem cerca de 1.500 hectares, conforme o MST.
A Polícia Militar do Rio diz que foi deslocada para garantir a integridade dos funcionários que trabalham na fazenda e que o efetivo se mantém no local acompanhando a ação. Segundo a PM, o MST armou barracas próximas à casa de Ricardo Teixeira. A corporação diz que aguarda uma decisão da Justiça para saber se eles serão retirados do local ou permanecerão até uma ordem de reintegração de posse. A PM afirma que está lá apenas para garantir que não haverá nenhum ato de vandalismo.
Já a fazenda Esmeralda, do coronel João Batista Lima Filho foi ocupada por cerca de 800 integrantes do MST. As terras ficam no município paulista de Duartina e também somam 1.500 hectares. Segundo o MST, a fazenda está oficialmente está registrada como sede da empresa Arquitetura e Engenharia Ltda.(Argeplan), mas moradores da região a identificam como “fazenda do Temer” e afirmam que grande parte da área foi grilada.
As polícias Civil e Militar de São Paulo estão no local, mas não retornaram à delegacia. Não há informações no momento.
No Piauí, cerca de 1.000 famílias ocuparam a fazenda Junco, que pertenceria ao senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP —“partido aliado ao golpe”, segundo o MST. As famílias “denunciam a improdutividade da área” e reivindicam a desapropriação das terras para fins de reforma agrária. A propriedade fica a 22 quilômetros da capital do estado, Teresina, perto da rodovia BR-316.
Outras terras
No Paraná, cerca de 300 famílias ocuparam as fazenda Lupus 1, 2 e 3 na cidade de Alto Paraíso. O grupo alega que, em 2007, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) constatou em laudos técnicos a improdutividade da terra por “descumprir a sua função social, que é o uso adequado dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente”. Segundo o MST, após o dono das terras —que não foi identificado pelo movimento— ter entrado com recurso, a Justiça Federal de Umuarama manteve a decisão do Incra, em 2013. A ocupação nas fazendas visa a acelerar a arrecadação das terras.
No Maranhão, cerca de 400 integrantes do MST e de outros movimentos bloqueiam o acesso ao Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). O ato “é contra a entrega da base aos Estados Unidos e defende a soberania brasileira”. O MST diz que a possível ampliação de um programa espacial na região pode provocar remoções e despejos em mais 200 comunidades de quilombos na região. Conforme os sem-terra, famílias não foram indenizadas após a remoção de comunidades nas décadas de 80 e de 90.
Veja a íntegra da nota do Grupo Amaggi
Cuiabá, 25 de julho de 2017.
A AMAGGI vem a público confirmar que, na manhã desta terça-feira (25), uma das unidades produtivas da companhia, a Fazenda SM02-B, localizada em Rondonópolis (MT), foi invadida por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
Neste momento, a companhia está preocupada com a integridade física dos 17 colaboradores e familiares que residem na fazenda e está tomando as providências necessárias para garantir a segurança dos mesmos. Paralelamente está buscando os meios legais para reestabelecer a ordem em sua unidade produtiva.
Localizada a pouco mais de 20 quilômetros de Rondonópolis, às margens da rodovia BR-163, a Fazenda SM02-B possui uma extensão de 479,7 hectares e é uma das mais antigas unidades produtivas da AMAGGI, com atividades desde a década de 1980, gerando empregos diretos e indiretos e contribuindo para o desenvolvimento da economia local, com respeito ao meio ambiente e atendendo à finalidade socioambiental do imóvel.