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MPF temia fuga de Bendine, que tinha passagem para Portugal

O ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras foi preso acusado de receber 3 milhões de reais em propinas da Odebrecht

Por Guilherme Venaglia
Atualizado em 4 jun 2024, 18h20 - Publicado em 27 jul 2017, 11h01
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  • O ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine, que teve a prisão temporária executada nesta quinta-feira, tinha uma passagem para Portugal comprada para a manhã de sexta, o que provocou no Ministério Público Federal (MPF) o temor de que ele fugisse. Além de Bendine, o operador André Gustavo Vieira, também preso, viajaria para o país europeu ainda na tarde de quinta, tendo sido impedido pela deflagração da Operação Cobra, a 42ª fase da Lava Jato.

    “Some-se ainda o fato de Bendine possuir nacionalidade italiana e os operadores, por sua vez, possuem negócios consolidados em Portugal. É concreto o risco à ordem pública”, afirmou o procurador Athayde Ribeiro Costa, membro da força-tarefa da Lava Jato. Diante do pedido dos procuradores, o juiz federal Sergio Moro decretou a prisão temporária, ou seja, pelo prazo máximo de cinco dias.

    Costa, membro da força-tarefa da Lava Jato, afirmou que o MPF solicitou inicialmente que o regime de prisão fosse o preventivo, que não tem prazo máximo, e que o órgão avalia reiterar a Moro o pedido para que o ex-presidente da Petrobras fique detido por mais tempo. Os procuradores afirmaram não saber, com certeza, se existe ou não uma passagem de volta, mas que a viagem com a cidadania europeia seria suficiente para justificar a ação.

    As investigações partiram das delações premiadas de Marcelo Odebrecht e Fernando Ayres, ex-executivos do grupo Odebrecht, e se basearam em trocas de mensagem e em ao menos duas reuniões. Na primeira, ainda à frente do Banco do Brasil, Bendine teria solicitado 17 milhões de reais aos executivos, em troca de benefícios em um empréstimo da Operação Agroindustrial, mas acabou não sendo atendido.

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    Já em 2015, às vésperas de assumir o comando da Petrobras e já no segundo ano de atividade da Lava Jato, Bendine teria reiterado o pedido, reduzindo-o para 3 milhões de reais. A promessa, segundo os executivos, era beneficiar a Odebrecht dentro da petroleira em um momento que as investigações se aproximavam da empresa. O valor foi pago em três parcelas de 1 milhão de reais, no apartamento de um outro operador, Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior.

    A propina entregue a Bendine e aos dois operadores, que são irmãos e foram presos no Recife, só parou quando Marcelo Odebrecht foi preso pela Polícia Federal na  Operação Erga Omnes, 14ª fase da Lava Jato, que atingiu a própria empreiteira e a Andrade Gutierrez. Essa é a primeira operação da PF em Curitiba após o fim da força-tarefa exclusiva para a Lava Jato e também a primeira cujas investigações se originaram da colaboração da Odebrecht.

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    Consultoria

    Os valores recebidos foram declarados, por André Gustavo Vieira, como serviços de consultoria empresarial prestados para a Odebrecht. Segundo o informado à Receita Federal, ele recebeu 3 milhões de reais entre março e abril deste ano, referentes a um contrato anterior de 17 milhões de reais, justamente os valores que os executivos da Odebrecht afirmaram terem sido solicitados por Bendine e seus operadores.

    Em despacho que autorizou a Operação Cobra, o juiz Sergio Moro contestou o fato de os pagamentos de consultoria só terem sido feitos dois anos depois de sua suposta realização. Segundo o juiz, Vieira “não logrou aparentemente descrever os serviços de consultoria que justificariam um contrato de dezessete milhões de reais e pagamento de três milhões de reais”.

    O magistrado também colocou, como um elemento que justifica a desconfiança sobre a veracidade da consultoria, o fato de não haver nenhum contrato escrito pelas partes e o pagamento não ter sido realizado “pelas vias usuais”, mas sim pelo Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht. De acordo com as investigações e as delações de executivos da empreiteira, a função principal do departamento era o pagamento de propina a autoridades públicas.

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    ‘Desnecessária’

    Em nota divulgada mais cedo, o advogado Pierpaolo Bottini afirmou que a prisão do ex-presidente da Petrobras era “desnecessária”. “Desde o início das investigações, Bendine se colocou à disposição para esclarecer os fatos e juntou seus dados fiscais e bancários ao inquérito, demonstrando a licitude de suas atividades. A cautelar é desnecessária por se tratar de alguém que manifestou sua disposição de depor e colaborar com a Justiça”, afirmou Bottini.

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