O ex-vice-presidente da República Marco Maciel morreu em Brasília na madrugada deste sábado, 12, aos 80 anos. Maciel, que ocupou a vice-presidência entre 1995 e 2002, nos dois mandados do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), sofria desde 2014 com complicações do Mal de Alzheimer e ele estava internado em um hospital da capital. A causa da morte não foi divulgada oficialmente até o momento. Maciel havia sido diagnosticado com Covid-19 em março.
Em nota, FHC afirmou que a característica mais marcante de seu vice foi a “lealdade” e disse que o político exercia sua função “com competência”. “Morreu hoje Marco Maciel. Exerceu a vice-presidência nas duas vezes em que fui Presidente. Se me pedirem uma palavra para caracteriza-lo diria: lealdade. Viajei muito, sem preocupações: Marco exercia com competência e discrição as funções que lhe correspondiam.Deixa saudades”, escreveu o tucano em uma rede social.
Pernambucano de Recife, nascido em 21 de julho de 1940, Marco Antônio de Oliveira Maciel se formou em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Pernambuco em 1963 e iniciou sua trajetória política na Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que dava sustentação à ditadura militar. Após o fim do bipartidarismo, foi um dos articuladores do Partido Democrático Social (PDS), que substituiu a Arena, e seguiu no Partido da Frente Liberal (PFL), sucessor do PDS, e no Democratas (DEM), nome atual da legenda.
Antes de ser eleito e reeleito vice-presidente nas eleições de 1994 e 1998 ao lado de FHC, Marco Maciel foi deputado federal entre 1971 e 1979, governador de Pernambuco entre 1979 e 1982, senador nos períodos de 1983 a 1985, 1987 a 1994 e 2003 a 2011, além de ministro da Educação e Cultura (1985-1986) e ministro da Casa Civil (1986-1987) no governo do ex-presidente José Sarney (MDB). Maciel também participou, como senador, da Assembleia Nacional Constituinte, entre 1987 e 1988.
Apoiador dos cinco presidentes da ditadura e integrante do governo Sarney, vice de Tancredo Neves que assumiu o Planalto com a morte do mineiro, o pernambucano também foi aliado dos ex-presidentes Fernando Collor, de cuja gestão foi líder no Senado, e Itamar Franco, que assumiu o Palácio do Planalto após o impeachment de Collor, em 1992.
Depois de o PFL decidir não lançar candidato próprio nas eleições de 1994 e se aliar a PTB e PSDB, do então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, projetado pelo Plano Real como presidenciável, coube aos pefelistas a indicação do companheiro de chapa de FHC. Diante de resistências dos tucanos ao nome de Marco Maciel, a primeira escolha do PFL foi o senador alagoano Guilherme Palmeira, da qual o partido desistiu após denúncias no gabinete dele, abrindo caminho para que Maciel fosse o indicado, agora sem objeções do PSDB.
Nos oito anos de FHC na presidência, Marco Maciel foi um vice discreto e influente, mantendo o perfil de negociador que demonstrou desde sempre na carreira política. Sua proximidade e conhecimento do Congresso levaram o presidente a indicá-lo como articulador político, com atribuições sobre as negociações por reformas almejadas pelo governo, como a quebra dos monopólios estatais sobre o petróleo e as telecomunicações. Inicialmente contrário à reeleição, o vice acabou aderindo à emenda que garantiu ao então presidente um novo mandato, aprovada pelo Congresso em fevereiro de 1997.
Ao final dos governos de FHC, Marco Maciel apoiou a candidatura de José Serra (PSDB) na eleição presidencial de 2002, que acabou vencida por Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Naquele ano, Maciel foi o candidato a senador mais votado no estado, com 1,7 milhão de votos (28,9% dos votos válidos), e garantiu oito anos de mandato, até 2011, período em que ele e o PFL-DEM estiveram na oposição ao governo Lula.
Em dezembro de 2003, Marco Maciel foi eleito para a cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo ao jornalista e empresário Roberto Marinho, que morreu em agosto daquele ano. O ex-vice-presidente publicou livros como Educação e Liberalismo, Liberalismo e Justiça Social, Ideias Liberais e Realidade Brasileira, Tempos de Mundialização, Reformas e Governabilidade e Política das Ideias.
Por meio de nota assinada por seu presidente, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, o DEM lamentou a morte do ex-vice-presidente. “Marco Maciel foi um dos mais importantes quadros do nosso partido. Com sua exemplar atuação na vida pública, escreveu uma história irretocável de dedicação ao nosso país”, escreveu Neto. “Homem de elevado espírito público, tenho certeza que o legado de Marco Maciel será lembrado por toda nossa história. Hoje, envio toda solidariedade e carinho aos familiares e amigos deste grande líder”.
Também em nota, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux lamentou a morte de Maciel. “Marco Maciel deixou marcas na história do Brasil nas últimas décadas como jurista, parlamentar, governador e vice-presidente da República. O país perde um grande brasileiro, com elevado espírito republicano”, disse. O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, também manifestou pesar pelo falecimento do ex-vice-presidente. “É com pesar que recebo a notícia do falecimento do ex-vice-presidente da República Marco Maciel. Advogado, professor e político, o pernambucano Marco Maciel também foi deputado, governador e senador, tendo exercido com zelo e eficiência todos os cargos, prestando relevantes serviços ao país”, afirmou.
Em razão do falecimento, o presidente Jair Bolsonaro declarou luto oficial em todo o país pelo período de três dias. A decisão foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União neste sábado, 12.