Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Máquinas de destruir reputações

“Pega ladrão!” E se quem está gritando é o próprio ladrão?

Por Fernando Grostein Andrade
Atualizado em 4 jun 2024, 16h05 - Publicado em 25 jan 2019, 07h00

Quem não gosta de saber que os papéis de empresas brasileiras estão se valorizando no exterior? Ou que o dólar está caindo? Ou que o investimento está subindo e a perspectiva de crescimento se fortalecendo? É falso, porém, acreditar que, para tudo isso acontecer, seja necessário sufocar críticas ou mesmo destruir conquistas civilizatórias.

“Você gosta tanto de fazer discurso lacrador que vai acabar tendo velório com caixão lacrado” — mensagens nesse tom agressivo têm sido disparadas na internet de forma covarde e anônima para calar vozes dissonantes e restringir o debate público à profundidade de um pires. Reportagens e notícias falsas são divulgadas com um objetivo: destruir a credibilidade de pessoas acusadas de “torcer contra o país”. Em alguns casos, usa-se o batido artifício de pegar uma operação financeira complexa e totalmente lícita de alguém que vai contra a nova ordem para vesti-la como se fosse um grande esquema de corrupção.

Tira-se proveito, enfim, da ignorância alheia e da disponibilidade mental para aceitar qualquer coisa. O modus operandi às vezes beira o absurdo. Exemplo recente: em um vídeo que circula na internet, uma proeminente política religiosa, hoje em Brasília, alerta os fiéis sobre os livros de feitiçaria do diabo distribuídos pelos professores. Exemplo mais antigo: parlamentares postos na luz da ribalta incitam o ódio pedindo a alunos que gravem as aulas de professores não alinhados com suas ideias. Estudei numa boa escola particular de São Paulo em que a maior parte dos professores era de esquerda e os alunos, majoritariamente, de direita. E daí? Que influência tiveram aqueles ótimos mestres? A meu ver, prepararam os jovens de direita para trabalhar suas ideias com maior consistência.

Se ainda restasse dúvida quanto aos ventos que sopram no Brasil, uma emissora de televisão, famosa por bajular e adular poderosos para gozar de benefícios e varrer para debaixo do tapete os próprios escândalos no sistema financeiro, ressuscitou o velho slogan excludente da ditadura: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. De um tempo para cá, forças diversas se aglutinaram no país pelo fim da corrupção e das regalias com dinheiro público e pela justa e óbvia racionalidade econômica. Parte dessas forças utiliza agora essas bandeiras como biombo de uma pauta obscurantista, de cunho religioso “em nome da pátria” — o que inclusive prejudica a reputação dos religiosos iluministas brasileiros e até de parcela da direita esclarecida.

Àqueles que consideram esse tipo de expediente nacionalista “necessário”, recomendo uma visita aos Estados Unidos, não só à Disney e a Miami, mas também à Califórnia e a Nova York, lugares mais miscigenados e cosmopolitas, onde há um enorme desenvolvimento humano e financeiro, com amplo espaço não só para a liberdade de expressão, mas também para a liberdade civil. Quem se lembra da “caça aos marajás” promovida por um presidente brasileiro, enquanto este escondia a sua corrupção e a de seus pares? Muitas vezes, quando alguém grita “pega ladrão!”, é bom saber se não é o ladrão quem está gritando.

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA de 30 de janeiro de 2019, edição nº 2619

Continua após a publicidade
carta
Envie sua mensagem para a seção de cartas de VEJA Qual a sua opinião sobre o tema deste artigo? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.br

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.