Lula impõe ao PT um sacrifício eleitoral inédito nas maiores capitais
De olho na reeleição do presidente, partido cogita lançar candidato em apenas um dos quatro maiores municípios do país, mas nem isso está garantido
O presidente Lula tem consciência da força do PT, mas sabe que, só com o partido e os tradicionais aliados de esquerda, não governa o pais e não ganha eleição. Por isso, ele tem determinado à direção petista que abra mão de candidaturas próprias tanto nas eleições municipais deste ano quanto nas eleições gerais de 2026, como forma de ampliar o leque de alianças e fortalecer a sua campanha à reeleição.
Apesar de seu hegemonismo notório, o PT está cumprindo a ordem e só cogita disputar a prefeitura em um dos quatro maiores colégios eleitorais municipais do país, Belo Horizonte, mas até isso não está garantido. Nos demais, a legenda apoiará nomes de outras siglas, em acordos avalizados por Lula. A regra é simples: pretensões eleitorais de companheiros serão sacrificadas em troca da consolidação do plano do presidente de conquistar um quarto mandato. Ele é a prioridade.
Mapa eleitoral
Na cidade de São Paulo, os petistas escolheram Marta Suplicy, que voltou ao partido recentemente, para vice na chapa encabeçada pelo deputado Guilherme Boulos (PSOL). Não é uma concessão qualquer. Será a primeira vez desde a sua fundação que o PT, que comandou a maior cidade do país em três ocasiões, não concorrerá à prefeitura.
No Rio de Janeiro, Lula costurou o apoio à reeleição de Eduardo Paes, filiado ao PSD, legenda do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e de Gilberto Kassab, secretário de governo da gestão Tarcísio de Freitas em São Paulo. De centro, o PSD faz parte de um seleto grupo de siglas que funciona como fiel da balança na política nacional. Em Salvador, o PT também não encabeçará uma chapa, apesar de ter cogitado essa possibilidade, e fará parceria com o MDB, outro expoente do centro.
O pragmatismo de Lula e a busca dele por um inédito quarto mandato presidencial norteiam as estratégias desenhadas até agora. “Quando o partido tem a Presidência, a política gira em torno da estratégia nacional. As eleições municipais passam a ser vistas como parte do xadrez da próxima eleição presidencial. Em colégios eleitorais importantes, só vale a pena comprar briga com aliados se tiver reais chances de vitória”, diz Fernando Guarnieri, professor de Ciências Políticas da UERJ.
Gol de honra
Nas quatro capitais com mais eleitores, o PT só mantém a candidatura, em Belo Horizonte, do deputado federal Rogério Correia, que já declarou ser irreversível a sua postulação. A dúvida é se Lula chancelará o nome do correligionário. Antes do Carnaval, o presidente visitou a cidade e foi recebido na pista de pouso pelo atual prefeito de BH e candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD), com quem posou para fotos.
Experiente, Lula tratou da questão eleitoral durante a viagem. “Está cedo para a gente discutir. O Fuad é um companheiro que eu tenho gratidão, porque me apoiou em 2022. Agora o PT está dizendo que quer ter um candidato, que talvez seja o Rogério. O que nós temos que trabalhar é sempre com a perspectiva de que vamos enfrentar alguém mais à direita, mais conservador”, disse o presidente. Ou seja: nada está decidido na capital mineira.