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Lula exercia mais influência quando estava na prisão, em Curitiba

O ex-presidente era mais popular na época em que se empenhava exclusivamente em encenar a farsa de perseguido político 

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h36 - Publicado em 15 Maio 2020, 06h00

Durante os 580 dias em que ficou preso, Lula exerceu com maestria o papel de mártir. Condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-­presidente conseguiu difundir com relativo sucesso, principalmente no exterior, o mantra de que era um preso político, uma espécie de herói que estava pagando com a própria liberdade o preço por ter assumido a defesa dos pobres durante seu governo. Nada disso é verdade, como se sabe. Lula foi parar na cadeia por se beneficiar pessoalmente de um gigantesco esquema de corrupção montado e administrado por seus companheiros de partido durante as administrações petistas. Motivada por um apelo emocional, a campanha “Lula Livre” manteve o ex-presidente em evidência e servia de slogan para uma esquerda bastante castigada. Mesmo na condição de presidiário e inelegível, o plano do PT era conservá-lo no domínio do partido e aproveitar sua popularidade para continuar liderando a oposição. Quando deixasse a cela da superintendência da Polícia Federal em Curitiba, viria o ápice: Lula sairia carregado nos braços do povo e comandaria a oposição de volta ao palco das grandes discussões nacionais. Como se sabe, nada disso aconteceu.

Na verdade, o fenômeno ocorreu na direção contrária. Lula hoje é um exemplo de como o poder pode ser, ao mesmo tempo, inebriante, efêmero e devastador. O petista deixou o Planalto como o presidente mais popular da história. Agora vê sua influência política e eleitoral evaporar. De acordo com uma pesquisa que circula dentro do próprio PT, seu líder enfrenta uma crescente rejeição desde que saiu da cadeia, em novembro do ano passado. O levantamento revelou que, entre dezembro e abril, a avaliação negativa sobre os seus dois mandatos aumentou em dez pontos, passando de 14% para 24%. Já a avaliação positiva caiu de 58% para 53% nesse mesmo período. “O Lula tinha mais holofote e importância quando estava preso”, admite um petista. Segundo ele, enquanto o ex-presidente cumpria sua pena, os militantes ao menos tinham alguma pauta conjunta e agiam de maneira uniforme. Sua libertação trouxe de volta o caudilhismo e a fragmentação interna.

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Uma ala do PT anda bastante irritada com as sucessivas ingerências de Lula e a relutância dele em provocar uma oxigenação interna, barrando a chegada de quadros novos para o comando da legenda. “Ele não nos dá o direito de errar” é uma frase comumente repetida nos bastidores e ilustra como as decisões partidárias têm obrigatoriamente de passar por seu crivo. Com o descontentamento interno crescendo, Lula tem procurado apoio externo para mostrar que ainda é o único nome da esquerda capaz de arregimentar apoio entre os eleitores. No fim de abril, para tentar sintonizar-se com protestos e panelaços que começam a demonstrar insatisfação com o atual governo, o ex-presidente passou a defender o impeachment de Jair Bolsonaro. “Acho que a sociedade está percebendo que o Bolsonaro não tem condições de continuar governando. O Brasil não pode suportar três meses com a anarquia que nós estamos vivendo hoje. O Brasil está desgovernado”, disse Lula na última semana. O impacto de tal declaração? Zero.

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ABASTANÇA - Lulinha: pai teme que o filho milionário tenha o mesmo destino (Danilo M. Yoshioka/Futura Press)
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Se a frente política tem lhe rendido dissabores, a batalha jurídica deixa o ex-presidente absolutamente apavorado. Além de não querer voltar para a cadeia de jeito nenhum, Lula revela pavor especial de ver seu filho Fábio Luís Lula da Silva seguir o mesmo destino. Em dezembro último, um mês após a soltura do pai, a Lava-­Jato deflagrou uma operação contra Lulinha, como é conhecido, para apurar como o ex-monitor do Zoológico de São Paulo se tornou sócio de uma empresa da telefonia Oi e ficou milionário. Recentemente, Lula também foi condenado em segunda instância no processo do sítio de Atibaia, o que dificulta ainda mais sua narrativa de que a condenação anterior, a do tríplex do Guarujá, não passou de uma perseguição do ex-juiz Sergio Moro.

Desde que deixou a cadeia, Lula mora em São Paulo com a namorada, a socióloga Rosângela Silva, a Janja. Sua liberdade, no entanto, foi alcançada apenas de maneira parcial. Na ocasião, mesmo sem a pandemia, um amigo do ex-presidente afirmou a VEJA que ele estava praticamente em prisão domiciliar. “Lula sabe o risco que corre. Não vai se expor numa sociedade que está tão polarizada”, contou. No PT, é notório que o ex-presidente teme ser hostilizado em suas saídas e ser chamado nas ruas de ladrão. Agora, favorecido com o confinamento obrigatório, Lula tem se dedicado a participar de lives com militantes e parlamentares, em que critica as medidas do governo no combate ao coronavírus. Mas está bem difícil arregimentar espectadores, mesmo contando com a participação especial de sua cachorrinha, a vira-lata Resistência. Na última quarta-feira, 13, a live do ex-presidente Lula atraiu a atenção de menos de 1 000 pessoas.

Publicado em VEJA de 20 de maio de 2020, edição nº 2687

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