Lula e Bolsonaro reafirmam planos eleitorais, mas maioria quer ambos longe das urnas
Pesquisa mostra que, apesar da polarização, mais de um terço da população não se identifica nem com o petismo nem com o bolsonarismo

Em que pesem as dificuldades crescentes que enfrentam, Lula e Bolsonaro vêm reafirmando, com palavras e ações, que pretendem disputar a eleição no ano que vem. O voluntarismo com que se articulam para isso, no entanto, contrasta com a vontade do eleitorado, que exibe sinais cada vez mais claros de que é crescente a fadiga com os dois políticos que lideraram a polarização recente no país. Segundo pesquisa Quaest de junho, dois em cada três brasileiros defendem que nem o presidente nem o ex-presidente devem se candidatar novamente (veja o quadro).
O levantamento mostra ainda uma fragmentação ideológica do eleitorado, mas chama atenção para o fato de que mais de um terço não se identifica nem com o petismo nem com o bolsonarismo. Entre os que admitem ter posicionamento ideológico, 38% afirmam que são de direita ou de esquerda, mas nem lulistas nem bolsonaristas — um contingente que abre caminho para alternativas, tanto à direita quanto à esquerda.

No campo da direita, a crescente pulverização do eleitorado é vista com otimismo misturado com cautela. A mesma Quaest animou os possíveis presidenciáveis ao mostrar que todos cresceram, em relação à rodada anterior, como opções caso Bolsonaro não seja candidato — hoje ele está inelegível. Três deles aparecem empatados tecnicamente com Lula em um eventual segundo turno: os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Ratinho Jr. (Paraná) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul). Outros dois governadores, Ronaldo Caiado (Goiás) e Romeu Zema (Minas Gerais), se mostraram competitivos contra o petista.
A movimentação desse grupo, embora ainda discreta, é crescente. O que impede esses postulantes de avançarem, por enquanto, é justamente a advertência do ex-presidente de que é ele o candidato — com isso, nenhum postulante a herdeiro dos votos da direita se animou a comprar briga com o seu maior representante. Mesmo com a restrição, o fato de a maior fatia do eleitorado não querer Bolsonaro candidato foi vista como mais uma sinalização de que a largada poderá ser dada em breve. Talvez em razão desse cenário, Bolsonaro causou uma certa surpresa na semana passada ao dizer que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que pode ser apoiada por ele ao Planalto, “não é bolsonarista”. “Não existe bolsonarista. Tem conservador, direita. Sempre existiu, mas não tinha uma forma. Nós demos uma forma a esse pessoal”, afirmou.
Se no campo da direita os grandes motivos para o eleitor descartar Bolsonaro talvez sejam a sua inelegibilidade e os seus problemas com a Justiça, à esquerda o problema é o próprio desempenho de Lula em seu terceiro mandato. A desaprovação ao seu governo chegou a 57% em maio, o maior índice do atual governo. Escândalos como o do INSS não ajudam, reconhecem aliados, que avaliam, no entanto, que ainda há muito que pode ser feito para mudar a imagem da gestão, sobretudo em um contexto em que não há nomes competitivos na esquerda.
O cenário atual lembra um pouco o que se viu em 2022, quando se apostou na chamada “terceira via”. Nomes como João Doria, Sergio Moro e Ciro Gomes tentaram se viabilizar batendo na tecla “nem Lula, nem Bolsonaro”, mas não conseguiram — Simone Tebet foi a melhor do centro no primeiro turno, com 4% dos votos. Até por isso, as simulações de segundo turno da última pesquisa precisam ser vistas com cautela. A leitura é a de que o desempenho de um candidato no embate direto na rodada final de votação não demonstra seu próprio potencial, mas é fruto da rejeição ao outro. “O eleitor não quer Lula nem Bolsonaro, mas não existe príncipe encantado”, avalia Murilo Hidalgo, diretor do Paraná Pesquisas. É verdade que as sondagens recentes mostram a insatisfação com a polarização e o desgaste dessas lideranças, mas será enorme o desafio dos postulantes em se viabilizar politicamente e, sobretudo, convencer o eleitorado a testar outras alternativas à direita ou à esquerda.
Publicado em VEJA de 13 de junho de 2025, edição nº 2948