O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro autorizou a quebra de sigilos fiscal e bancário do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), e de outras 26 pessoas, além de sete empresas. O filho “Zero Dois” do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é suspeito de empregar funcionários-fantasmas em seu gabinete ao longo dos seus mandatos na Câmara dos Vereadores da capital – atualmente, ele está em sua 6ª legislatura. A autorização da quebra dos sigilos ocorreu em 24 de maio e foi confirmada por VEJA nesta terça-feira, 31.
No pedido feito pelo Ministério Público fluminense, os promotores indicam a hipótese de existir o esquema de corrupção conhecido como “rachadinha” no gabinete do parlamentar – quando os assessores nomeados repassam seus salários de maneira parcial ou integral ao político. O método foi identificado no gabinete do irmão de Carlos, Flávio Bolsonaro (Patriota) quando este era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
O MP do Rio detectou movimentações financeiras atípicas por parte de Carlos Bolsonaro. Um dos núcleos investigados é o dos parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente e madrasta de Carlos, que foi chefe de gabinete do vereador na Câmara do Rio entre 2001 e 2008. Desde junho, ela e Jair Renan Bolsonaro estão morando em uma mansão no Lago Sul de Brasília avaliada em 3,2 milhões de reais, conforme mostrou a edição de VEJA que está nas bancas nesta semana. Mesmo não residindo na capital fluminense, parentes dela foram contratados pelo gabinete de Carlos. A partir de levantamentos feitos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), investigadores detectaram depósitos elevados, em espécie, na conta bancária de Ana Cristina enquanto ela trabalhava no gabinete do então enteado.
Em outubro do ano passado, VEJA revelou que funcionários sob suspeita de participar do esquema de rachadinhas de Carlos ganharam bônus generosos – somente Ana Cristina acumulou um total de gratificações de 120 720 reais entre 2002 e 2007. A campeã em bônus propiciados por Carlos Bolsonaro, segundo o levantamento da reportagem com base na Lei de Acesso à Informação, foi Juciara da Conceição Raimundo: 673 670 reais. Integrante do grupo de assessores exonerados por Carlos em dezembro de 2018, Juciara trabalhou mais de onze anos no gabinete do vereador, sete dos quais recebendo volumoso bônus — quando saiu, ele era de quase 7 000 reais por mês, quantia que adicionava ao salário de 10 000 reais. Com essa renda, a funcionária poderia levar vida confortável. No entanto, até pouco tempo atrás ela morava em uma casa, de tijolo aparente, que divide espaço com uma oficina mecânica, em uma favela em Cordovil, bairro de classe média baixa na Zona Norte do Rio. A reportagem de VEJA esteve no local duas vezes e também tentou falar com ela por telefone, sem sucesso. Juciara sumiu.
Procurada pela reportagem sobre a quebra dos sigilos, a defesa de Carlos Bolsonaro disse que todas as movimentações financeiras consideradas atípicas por parte do vereador são “absolutamente compatíveis” com os seus rendimentos. “Com relação ao relatório do Coaf, a defesa não teve acesso ao documento para verificar o seu conteúdo, no entanto o vereador permanece à disposição para prestar qualquer tipo de esclarecimento às autoridades”, finaliza a nota.