Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Inflação é principal adversário de Bolsonaro na sua pré-campanha eleitoral

É a carestia dos alimentos, da energia e dos combustíveis que impede o mandatário de reduzir nível de rejeição e de encurtar a distância em relação a Lula

Por Daniel Pereira Atualizado em 4 jun 2024, 11h51 - Publicado em 28 Maio 2022, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • DIAGNÓSTICO - Bolsonaro: a inflação pode comprometer a reeleição -
    DIAGNÓSTICO - Bolsonaro: a inflação pode comprometer a reeleição – (Reprodução/Twitter)

    Em sua campanha à reeleição, Jair Bolsonaro promete empenho para derrotar uma suposta ameaça comunista, impedir a volta do PT ao poder e defender o “cidadão de bem” e a família tradicional brasileira. Mesmo nos momentos mais críticos de popularidade, essas bandeiras ajudaram o presidente a manter o apoio de pelo menos 20% da população, mas elas sozinhas não serão capazes de lhe assegurar a conquista de um novo mandato. Hoje, a maior ameaça a Bolsonaro na campanha eleitoral não é nenhum dos adversários mencionados em seus discursos, muitos deles imaginários, e sim a crise econômica e, principalmente, a inflação. É a carestia dos alimentos, da energia e dos combustíveis que impede o mandatário de reduzir seu nível de rejeição e de encurtar a distância em relação ao líder das pesquisas, o ex-­presidente Lula. Em resumo: é o aumento generalizado dos preços — e não as alegadas e fantasiosas fraudes nas urnas — que mina as chances do ex-capitão. Esse diagnóstico é consenso entre políticos, analistas e marqueteiros. Do PT ao PL, passando pelos artífices da terceira via, não há dúvida: a inflação e o poder de compra das famílias terão peso decisivo no resultado final da votação.

    Apesar de seu negacionismo multidisciplinar, Bolsonaro reconhece há bastante tempo a gravidade da situação e tenta atenuá-la. No fim do ano passado, ele substituiu o Bolsa Família, que tinha um benefício médio de 189 reais, pelo Auxílio Brasil, cujo tíquete é de 400 reais. Recentemente, o governo anunciou a antecipação do pagamento do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS e a autorização para saque de até 1 000 reais de contas do FGTS com o objetivo de injetar recursos na economia. Essas medidas contribuíram para que o presidente recuperasse terreno e reduzisse de forma significativa a diferença para Lula entre o fim de 2021 e abril passado, mas em maio as pesquisas revelaram um quadro de relativa estabilidade — Bolsonaro parou de crescer ou o crescimento dele perdeu tração, freado pelo aumento do custo de vida. No mais recente levantamento Genial/Quaest, 50% dos entrevistados elegeram a economia como o principal problema do país. Ao detalharem a razão da escolha desse tópico, 18% mencionaram a inflação, que só ficou atrás de um genérico “crise econômica” (19%), que engloba uma série de fatores, como a própria carestia. Em janeiro, a inflação era citada por apenas 9%.

    CARESTIA - Refeição caseira: em média, o custo de preparação aumentou pelo menos 16% -
    CARESTIA - Refeição caseira: em média, o custo de preparação aumentou pelo menos 16% – (Cristiano Mariz/VEJA)

    O levantamento também mostrou que para 59% dos entrevistados piorou a capacidade de pagar contas nos últimos três meses. Em janeiro, o porcentual era de 51%. “A avaliação sobre a economia real, com o aumento significativo dos preços, é variável determinante para o resultado desta eleição. Sem uma melhora na percepção sobre a economia, é muito difícil que a rejeição ao presidente diminua”, diz o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest. O horizonte inflacionário é desafiador para Bolsonaro, cuja rejeição é de 60%, enquanto a de Lula é de pouco mais de 40%. Nos doze meses encerrados em abril, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 12,13%. No mês passado, a variação foi de 1,26%, a maior para abril desde 1996, e oito dos nove produtos e serviços pesquisados registraram alta. Como presidente da República, Bolsonaro tem suas despesas do dia a dia bancadas por recursos públicos, mas, se ainda fosse deputado do baixo clero e tivesse de quitar as próprias faturas, ele certamente sentiria no bolso o fardo da inflação. Mesmo os seus lanches mais prosaicos, divulgados nas redes sociais como forma de alimentar a imagem de um homem simples, ficaram salgados nos últimos tempos.

    Continua após a publicidade
    FORA DO CARDÁPIO - Churrasco: carne agora é iguaria de luxo -
    FORA DO CARDÁPIO - Churrasco: carne agora é iguaria de luxo – (Igo Estrela/Metrópoles/.)

    O caso do combo de estimação do presidente é ilustrativo. Em doze meses, o pão francês subiu 13,09% e o café, 67,53%. O leite longa vida, que pode ser misturado no café, aumentou 23,37%. Só o preço do leite condensado, tão apreciado pelo mandatário como recheio do pão francês, permaneceu praticamente estável, com alta de 1,14% no período. A situação se torna mais preocupante quando são analisados produtos e serviços essenciais com impacto maior no orçamento familiar. Em doze meses, a alimentação em casa, a gasolina, o botijão de gás e a energia residencial subiram, respectivamente, 16,12%, 31,22%, 32,34% e 20,52%. Esses números assombram o candidato à reeleição, que recorreu à caneta presidencial para reagir. Nos últimos dias, Bolsonaro reduziu pela segunda vez em 10% os impostos de importação sobre itens como feijão, carne, massas, biscoitos e arroz. Com o apoio do comandante da Câmara, Arthur Lira, expoente do Centrão e seu aliado, o presidente também tenta aprovar um projeto que reduz o ICMS de energia e combustíveis — e que, segundo projeções de sua equipe econômica, pode diminuir em pouco mais de 1 ponto porcentual a taxa de inflação. O projeto já recebeu o aval dos deputados e seguiu para a análise dos senadores.

    Os combustíveis são um capítulo importante nesse jogo. Depois de declarar numa de suas lives que o lucro da Petrobras era um “estupro”, Bolsonaro anunciou a segunda troca do presidente da companhia em menos de dois meses. Antes, já havia substituído o ministro de Minas e Energia. Com as mudanças, ele quer que a Petrobras segure os reajustes dos combustíveis até a eleição ou, pelo menos, dê mais espaço de tempo entre os aumentos de preço. Se esse objetivo não for alcançado, Bolsonaro argumentará que fez de tudo para baratear a gasolina, mas que o “sistema” — sempre ele — não permitiu. Essa alegação tem sido constante e está surtindo efeito. Segundo pesquisa XP/Ipespe divulgada no último dia 20, quase dois terços dos entrevistados endossam as críticas do presidente à Petrobras e afirmam que a empresa tem “muita responsabilidade” pelo aumento dos combustíveis. A mesma sondagem revelou, no entanto, que para 72% os preços no geral “aumentaram muito” nos últimos meses — e para 41% ainda “vão aumentar muito”. Líder em intenções de voto, Lula tem explorado esses dados para assombrar a campanha do adversário.

    Continua após a publicidade
    PASSEIO CARO - Combustíveis: o cenário internacional tem provocado aumentos sucessivos -
    PASSEIO CARO – Combustíveis: o cenário internacional tem provocado aumentos sucessivos – (Pedro Ladeira/Folhapress/.)

    A ordem na coordenação petista é delimitar o debate à questão econômica e à carestia generalizada. Nada de perder tempo com pautas de costume e embates ideológicos. “Para o povo brasileiro, o preço da gasolina a 8 reais, o diesel a 7 reais, o gás a 150 reais, 140 reais, 130 reais. E para os acionistas estrangeiros, o lucro. Um governo totalmente irresponsável, não tem nenhuma preocupação com o povo brasileiro”, disse numa entrevista o ex-presidente, que não esconde de ninguém a intenção de interferir na política de preços da Petrobras. Nas redes sociais, arena em que os petistas querem reduzir a desvantagem para os bolsonaristas, Lula também vem insistindo na tese de que, em seus governos, o poder de compra era bem maior. Numa das mensagens postadas, ele diz que o salário mínimo teve aumento real de 57,8% entre 2003 e 2010, quando governou o país, enquanto na gestão Bolsonaro houve uma queda de 1,77%. Na comparação, Lula não incluiu os dados relativos aos mandatos de Dilma Rousseff, que deixou como legado a maior recessão de nossa história. A resposta dos bolsonaristas é quase sempre a mesma: repetir que a inflação é um fenômeno global.

    LANCHE INDIGESTO - Pastéis: insumos mais caros deixaram alimentos populares mais salgados -
    LANCHE INDIGESTO - Pastéis: insumos mais caros deixaram alimentos populares mais salgados – (Alan Santos/PR)
    Continua após a publicidade

    De fato, esse não é um problema só do Brasil. Um relatório distribuído no Fórum Econômico Mundial alertou para a possibilidade de uma escalada de preços na América Latina e nos Estados Unidos. O problema é que para Bolsonaro não basta ter um argumento pertinente ou razoável. Sua prioridade não é ganhar o debate, mas vencer a eleição. Para ter chances nas urnas, ele precisará baratear (ou manter) os atuais custos de alimentação, energia e combustíveis. Até aqui, não tem conseguido e, por isso, tem sido aconselhado a adotar toda sorte de medidas heterodoxas, como subsídios oficiais e intervencionismos artificiais nos preços, ações que podem até ter um efeito positivo momentâneo, mas certamente deixarão para o vencedor do pleito uma bomba de efeito retardado. Enquanto não domina a inflação, o presidente aposta na estratégia diversionista de atacar o Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Alexandre de Moraes, o comunismo e o PT. A cor vermelha, de fato, é uma ameaça à reeleição — não a das bandeiras partidárias, mas a do singelo tomate, que encareceu mais de 100% em um ano.

    Publicado em VEJA de 1 de junho de 2022, edição nº 2791

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.