Hackers querem deixar o Brasil nas trevas, diz Ayres Britto
Para o ex-presidente do TSE, um eventual ataque ao site da Corte faz parte de estratégia “maligna" para provocar a erosão da imagem do tribunal
A guerra cibernética contra a Justiça Eleitoral faz parte de uma “estratégia maligna” para minar a democracia, esvaziar o número de brasileiros que vão comparecer às urnas e tentar lançar desconfianças com o resultado da votação em outubro. O alerta é do ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Carlos Ayres Britto, que comandou o tribunal por cerca de dois anos — de maio de 2008 a abril de 2010 (nesse período, comandou as eleições municipais de 2008, sem sobressaltos). Para o ministro, “como a democracia não tem vocação para o suicídio”, ela tem de se preparar para esse tipo de ataque.
“As eleições estão nos portais da democracia brasileira. O objetivo dos inimigos figadais da democracia é atacar tudo que se refira à legitimidade ou à regularidade do processo eleitoral para inibir até o comparecimento às urnas e preparar a coletividade para a não aceitação do resultado da eleição, caso o resultado seja desfavorável a quem esteja no poder. Isso faz parte de uma estratégia maligna”, disse Ayres Britto, em entrevista a VEJA. “Não é a primeira vez que isso ocorre, só que desta vez aparece o risco em uma dimensão maior. A ousadia e o acinte se tornaram ainda maior. É um processo de tentativa de erosão da imagem das instituições eleitorais.”
Na avaliação do jurista, a Justiça Eleitoral está plenamente consciente de que esse tipo de ataque está sendo engendrado. Mesmo assim, o cenário exige um estado de alerta permanente. Conforme informou a última edição de VEJA, o TSE dá como certo o recrudescimento dos ataques na véspera das eleições presidenciais deste ano — uma das principais preocupações de integrantes do tribunal é com a possibilidade de o site da Corte ficar fora do ar, tumultuando o processo eleitoral. Mesmo que isso aconteça, no entanto, os votos dos milhões de brasileiros estariam a salvo, já que a apuração acontece em outro sistema, que não está conectado via internet.
Para Ayres Britto, o TSE deve tomar todas as providências tecnológicas para impedir um dano dessa natureza ao site da instituição, que pode ser “fatal”. “O maior objetivo dos inimigos da democracia é esse: é mais do que tumultuar, é inviabilizar o processo. Lançar dúvidas e suspeitas isso já vem permanentemente, mas os inimigos da democracia não se satisfazem com isso. Eles querem ir muito além, que é inviabilizar, frustrar por completo o processo eleitoral com esse tipo de ataque, como a retirada do site do TSE, projetando para a população uma ideia de acefalia do sistema. Esse seria o mais danoso. O objetivo é deixar o País em situação de treva, de não saber nem o que fazer”, disse.