GSI ganha voto de confiança de Lula no combate aos crimes cibernéticos
Esvaziado no início do governo, gabinete consegue avançar proposta de segurança virtual ao ter decreto avalizado pelo presidente
Um decreto assinado pelo presidente Lula e publicado nesta quarta-feira, 27, estabelece a criação de uma política e de um comitê nacional voltados à segurança cibernética. A proposta é uma das principais bandeiras do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Marcos Antônio Amaro, e representa uma vitória do órgão militar, que foi escanteado e enfrentou uma série de suspeitas desde o início do governo.
Em linhas gerais, o decreto, feito sob a batuta do GSI, prevê um plano de prevenção a ataques cibernéticos — principalmente aqueles contra estruturas nacionais e serviços prestados à sociedade —, o estímulo a medidas de prevenção a esses crimes e o desenvolvimento de tecnologias de segurança.
Para isso, será criado um comitê, formado por representantes de diversos ministérios, do Banco Central, da Anatel, do Comitê Gestor da Internet e da sociedade civil, acadêmica e empresarial, cuja presidência também ficará a cargo do GSI.
A medida vinha sendo encampada pelo gabinete havia meses. O general Amaro buscou pessoalmente ministros como Flávio Dino, da Justiça, e Esther Dweck, da Gestão, para tratar da importância da reforçar as bases e a proteção cibernética do país. Em conversas, o chefe do gabinete costuma exaltar que o Brasil tem prejuízos bilionários todos os anos em decorrência de ataques cibernéticos, a exemplo dos que recaem sobre o sistema financeiro.
‘Antro’ de bolsonaristas
Ainda durante a transição, aliados do recém-eleito presidente diziam que o GSI era um “antro de bolsonaristas”, por verem uma suposta contaminação dos militares que atuaram no órgão, à época chefiado por Augusto Heleno.
Após os ataques do dia 8 de janeiro, cuja inoperância do órgão permitiu a invasão e a depredação do Palácio do Planalto, o clima de animosidade aumentou ainda mais, e Lula determinou que fosse feita uma “limpa” no gabinete, que era comandando por Marco Edson Gonçalves Dias, seu homem de confiança.
Além disso, o GSI foi esvaziado ao ter o comando da Abin, o principal órgão de inteligência do governo, transferido para a Casa Civil.
O gabinete é responsável, entre outras atribuições, pela segurança pessoal do presidente da República. Em meio à desconfiança, a Polícia Federal acabou assumindo essa função até junho.
Também cabe ao GSI coordenar um programa de proteção de fronteiras, o sistema de proteção nuclear e, ainda, a segurança cibernética.
Decreto é apenas um marco inicial
A ideia inicial do chefe do GSI era mais ambiciosa do que consta no decreto publicado nesta quarta. Amaro defende a criação de uma autarquia específica para cuidar da segurança cibernética. Em meados do ano, foram feitos esboços sobre a criação de uma agência sobre o assunto, e chegou a ser estudada a possibilidade de taxação de usuários de internet para manter a estrutura.
A medida foi logo alvo de críticas inclusive dentro do governo e acabou sendo descartada. Apesar disso, segue a intenção de criação dessa estrutura específica – tanto que o decreto prevê o desenvolvimento de mecanismos de regulação, fiscalização e controle destinados a aprimorar a segurança e a resiliência cibernéticas nacionais, atribuições mais específicas de uma agência.
A criação dessa autarquia dependeria de aprovação de projeto no Congresso Nacional, que também definiria a fonte dos recursos voltados para o órgão.