Passada toda confusão envolvendo os atos de vandalismo na Esplanada dos Ministérios, um episódio que vem sendo narrado pelo círculo mais próximo do presidente Lula ilustra à perfeição o clima de desconfiança generalizado entre os militares e o governo.
A história se encaixa com fala recente do presidente que, em entrevista à TV Globo, disse ter acreditado que seria alvo de um golpe de estado durante ataques terroristas do 8 de janeiro, e também que a invasão das sedes dos três poderes representou uma tentativa de golpe por “gente preparada”.
Na última semana, VEJA ouviu o relato de uma importante liderança do governo de que o Brasil esteve, de fato, à beira de um golpe militar. Conforme o roteiro, o alerta teria sido repassado pelo ministro da Defesa, José Múcio, ao próprio Lula – que comentou sobre o plano com pelo menos seis pessoas. Outras autoridades, entre as quais o ministro da Casa Civil, Rui Costa, também teriam tomado conhecimento da intentona.
O levante, detalharam, seria iniciado pelos fuzileiros navais, grupamento então coordenado pelo rebelde comandante da Marinha, o almirante Garnier Santos. A bomba estaria estrategicamente armada para dez dias antes da posse presidencial, o que evitaria que Lula subisse a rampa do Palácio do Planalto. Com dia e horário marcados, o suposto golpe não foi concretizado porque não obteve unidade no Alto Comando do Exército.
O governo teria optado por manter a trama sob total sigilo porque sequer sabe os efeitos de buscar uma reação neste momento e tampouco o tamanho do contingente militar que estaria ao lado de Lula. “Quantas divisões blindadas tem o papa?”, questionou um aliado de Lula.
No meio militar, o almirante Garnier, o suposto cabeça do plano golpista, é descrito como o mais “fanático” dos generais em decorrência de seu ferrenho apoio a Bolsonaro. Em um ato inédito, ele se recusou a participar de qualquer reunião com o ministro da Defesa durante o processo de transição de governo e sequer compareceu à posse do seu sucessor na Marinha, o almirante Marcos Sampaio Olsen – a ausência foi avisada dias antes, mostrando que não haveria nem espaço para diálogo enquanto ele fosse o comandante. Dias após, deixando claro que o problema tinha nome e apelido, Garnier compareceu a um almoço na casa de Olsen, do qual participavam outros almirantes de peso e o ministro da Defesa, e até levou a tiracolo um descontraído presente a Múcio – uma garrafa de vodka.
Ninguém, no entanto, confirma a história, que também pode ganhar ares de boato ou fogo amigo para manter viva dentro do PT a fritura do ministro da Defesa.