Governadores assinam carta de apoio a Maia e Alcolumbre contra Bolsonaro
Mandatários estaduais ressaltam atuação dos chefes do Executivo por estados e municípios e dizem que presidente afronta princípios democráticos
Governadores de 20 estados assinaram uma carta de apoio aos chefes do Legislativo após os ataques do presidente Jair Bolsonaro ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Datado deste sábado, 18, e intitulado “carta aberta à sociedade brasileira em defesa da democracia”, o texto do Fórum Nacional de Governadores diz que a postura de Bolsonaro é uma “afronta” aos “princípios democráticos” e que “a saúde e a vida do provo brasileiro devem estar muito acima de interesses políticos, em especial nesse momento de crise”.
Na quinta-feira, 16, depois de a Câmara aprovar um pacote de auxílio de 86,9 bilhões de reais a estados e municípios, Bolsonaro declarou que a intenção de Maia é “atacar o governo federal, enfiar a faca”, para tirá-lo do poder, que o presidente da Câmara tem uma “péssima atuação” e está “conduzindo o país para o caos”. Em entrevista a VEJA, Maia declarou que o presidente “minimiza a pandemia” de Covid-19 e que o ministro da Economia, Paulo Guedes, “não é sério”.
No texto em apoio aos chefes do Legislativo, os mandatários estaduais afirmam que Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), têm se empenhado em atender a estados e municípios durante a pandemia do coronavírus. A postura de Bolsonaro tem sido a de criticar governadores e prefeitos por imporem medidas de isolamento social mais rígidas do que o presidente gostaria.
“Ambos demonstram estar cientes de que é nessas instâncias que se dá a mais dura luta contra nosso inimigo comum, o coronavírus, e onde, portanto, precisam ser concentrados os maiores esforços de socorro federativo”, dizem.
A carta é assinada pelos governadores Renan Filho (Alagoas), Waldez Góes (Amapá), Rui Costa (Bahia), Camilo Santana (Ceará), Renato Casagrande (Espírito Santo), Ronaldo Caiado (Goiás), Flávio Dino (Maranhão), Mauro Mendes (Mato Grosso), Reinaldo Azambuja (Mato Grosso do Sul), Helder Barbalho (Pará), João Azevêdo (Paraíba), Paulo Câmara (Pernambuco), Wellington Dias (Piauí), Wilson Witzel (Rio de Janeiro), Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), Carlos Moisés (Santa Catarina), João Doria (São Paulo), Belivaldo Chagas (Sergipe) e Mauro Carlesse (Tocantins).
Não assinaram a missiva os governadores Ibaneis Rocha (Distrito Federal), Ratinho Júnior (Paraná), Romeu Zema (Minas Gerais), Wilson Lima (Amazonas), Antonio Denarium (Roraima), Marcos Rocha (Rondônia) e Gladson Camelli (Acre).
Os signatários do texto afirmam ainda que suas políticas são pautadas “pelos indicativos da ciência, por orientações de profissionais da saúde e pela experiência de países que já enfrentaram etapas mais duras da pandemia, buscando, neste caso, evitar escolhas malsucedidas e seguir as exitosas”.
Enquanto Bolsonaro defende a reabertura de comércios e serviços para diminuir os efeitos da pandemia na economia e no emprego no país – a ponto de dizer ao novo ministro da Saúde, Nelson Teich, que é necessário “abrir o emprego” – os chefes de Executivos estaduais afirmam “não haver conflitos inconciliáveis entre a salvaguarda da saúde da população e a proteção da economia nacional, ainda que os momentos para agir mais diretamente em defesa de uma e de outra possam ser distintos”.
Veja abaixo a íntegra da carta:
Carta aberta à sociedade brasileira em defesa da democracia
O Fórum Nacional de Governadores manifesta apoio ao presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, e ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, diante das declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre a postura dos dois líderes do parlamento brasileiro, afrontando princípios democráticos que fundamentam nossa nação.
Nesse momento em que o mundo vive uma das suas maiores crises, temos testemunhado o empenho com que os presidentes do Senado e da Câmara têm se conduzido, dedicando especial atenção às necessidades dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios brasileiros. Ambos demonstram estar cientes de que é nessas instâncias que se dá a mais dura luta contra nosso inimigo comum, o coronavírus, e onde, portanto, precisam ser concentrados os maiores esforços de socorro federativo.
Nossa ação nos Estados, no Distrito Federal e nos municípios tem sido pautada pelos indicativos da ciência, por orientações de profissionais da saúde e pela experiência de países que já enfrentaram etapas mais duras da pandemia, buscando, neste caso, evitar escolhas malsucedidas e seguir as exitosas.
Não julgamos haver conflitos inconciliáveis entre a salvaguarda da saúde da população e a proteção da economia nacional, ainda que os momentos para agir mais diretamente em defesa de uma e de outra possam ser distintos.
Consideramos fundamental superar nossas eventuais diferenças através do esforço do diálogo democrático e desprovido de vaidades. A saúde e a vida do provo brasileiro devem estar muito acima de interesses políticos, em especial nesse momento de crise.