Considerado pelo presidente como o pior dos “governadores de paraíba”, o maranhense Flávio Dino diz que Bolsonaro ameaça a democracia — chegando ao exagero de compará-lo a Hitler e a Mussolini. Na entrevista a VEJA, ele admite que deseja concorrer ao Palácio do Planalto e concorda que a polêmica ajudou a promover seu nome.
Por que classifica Bolsonaro como um “projeto de ditador”? Isso foi após ele agir de forma intolerante e desrespeitosa não só com o Maranhão, mas com o Nordeste inteiro. O presidente, o seu círculo mais próximo e a ideologia extremista são graves ameaças à democracia — basta ver o que acontece nas redes sociais. Em muitos sentidos, temos uma conjuntura parecida com a da Itália nos anos 1920 e a da Alemanha nos anos 1930.
O senhor está comparando Bolsonaro com Mussolini e Hitler. Não é um exagero completo? Vejo a influência do nazifascismo no movimento bolsonarista. Eles têm uma visão de ataque a tudo o que rotulam de comunismo, o discurso do inimigo a ser destruído. O que pesou nessa onda de ataques é a visão que Bolsonaro nutre de conflitos, ele agride pessoas do próprio governo. Trata-se de um método de externar esses ódios.
Teme que Bolsonaro “não dê nada” ao Maranhão? Não tenho medo, só quero que ele cumpra suas funções em relação àquilo que é direito do estado e que está garantido na Constituição. Quero que recupere estradas federais e financie programas como o Minha Casa, Minha Vida. Todos os estados estão sendo prejudicados pela inexistência de uma política econômica e social que dê conta dos desafios brasileiros.
Como o senhor avalia o desempenho do presidente? Tenho dificuldade de identificar pontos positivos, com exceção de questões isoladas, como a aprovação do 13º para os beneficiários do Bolsa Família. O conjunto da obra é muito ruim.
O senhor concorda com a reforma da Previdência que foi aprovada? Sou contra a reforma, mas o texto ficou bem melhor do que o enviado pelo governo. Essa foi a principal vitória da oposição, mas há espaço para fazer melhorias, para termos uma reforma que combata os déficits e evite o genocídio social.
O senhor é cotado como pré-candidato à Presidência da República. Pretende concorrer em 2022? Estou no comecinho do segundo mandato e tenho um desafio gigante, que é governar em meio à recessão econômica. Não coloco na minha frente cenários eleitorais tão distantes.
Mas existe esse desejo? Qualquer jogador de futebol fica feliz quando é convocado para a seleção brasileira. Mas hoje meu time é o Maranhão.
A população brasileira está com um pé atrás com a esquerda desde os escândalos envolvendo o PT? A bandeira da corrupção se tornou um instrumento de luta política partidária. É uma causa justa, legítima, que deve mobilizar as atenções de todas as lideranças políticas. Mas a maior corrupção que existe na sociedade é a terrível desigualdade social, a pobreza.
O Maranhão tem uma alta taxa de pobreza e desemprego. Esse cenário pouco mudou no seu governo, e o senhor encontra-se no segundo mandato. Bolsonaro não acertou ao criticá-lo? Todos sabem que desigualdades regionais são muito acentuadas, por isso não podem ser imputadas a mim. Digo com segurança que os ataques foram motivados por intolerância à minha ideologia. É preconceito político.
Qual saldo a polêmica com Bolsonaro vai deixar? Ele resolveu promover o meu nome. Me fez um grande favor.
Publicado em VEJA de 31 de julho de 2019, edição nº 2645