Sem alarde, órgãos de inteligência do governo e da Polícia Federal detectaram recentemente indícios do que pode ser o novo paradeiro de um notório narcotraficante, Gilberto Aparecido dos Santos. Conhecido como Fuminho, ele é um dos maiores produtores de drogas da América do Sul e um importante fornecedor de entorpecentes para o Primeiro Comando da Capital (PCC). Na quinta-feira, 30, Fuminho entrou oficialmente na lista dos criminosos mais procurados do país. A Lista de Procurados Nacional reúne ainda outros 25 criminosos acusados de crimes graves ou violentos, envolvimento com organizações criminosas e procurados pela Interpol, entre os quais Leomar Oliveira Barbosa, conhecido como Leozinho ou Playboy. Ligado ao Comando Vermelho, ele foi braço direito do mega traficante Fernandinho Beira-Mar e responsável por uma rota de envio de cocaína do Paraguai para um aeroclube em Atibaia (SP).
Recentemente policiais federais que atuam na fronteira descobriram que Fuminho deixou a Bolívia, onde tem propriedades para a produção de cocaína, e costuram com governos vizinhos sua captura e extradição de volta para o Brasil. Fuminho fugiu do Carandiru em 1998 e nunca mais foi capturado.
O nome do traficante apareceu em bilhetes interceptados dentro do presídio de Presidente Venceslau, no oeste do estado de São Paulo. Nos recados, integrantes do PCC apontam Fuminho como o braço financeiro de uma operação de fuga de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, principal líder da facção.
Desde que o chefão do PCC cumpria pena na P2, como é conhecida a ala da cadeia em Presidente Venceslau que o abrigava, planos de fuga são monitorados pelo serviço de inteligência que atua dentro dos presídios. Foi um primeiro bilhete idealizando o resgate de Marcola que motivou a transferência do líder da facção para o presídio federal de Rondônia, no início de 2019. Uma segunda comunicação alertou investigadores de que o Número Um do PCC, atualmente no presídio de segurança máxima de Brasília, também fez referência a Fuminho como o financiador de uma nova fuga. Segundo investigadores, ele seria o responsável por providenciar helicópteros e jatos para retirar Marcola de trás das grades.
Fuminho, identificado por vezes pelos codinomes Magrelo, Giba, Gerente, Neném e Africano, é apontado como o mandante da execução de dois ex-líderes do PCC, Rogério Jeremias de Simone, conhecido como Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Sousa, o Paca. Depois de serem assassinados com tiros no rosto, os dois foram içados por um helicóptero e depois tiveram os corpos queimados na região de Fortaleza. Há pelo menos dois mandados de prisão contra o comparsa de Marcola.
Marcola em Brasília – Marcola desembarcou em Brasília em 22 de março passado e mudou a rotina da cidade. Policiais ouvidos por VEJA disseram que detectaram, no último ano, novos vínculos com a organização criminosa, instalada na capital em 2012 e cada vez mais poderosa. Eles descobriram que uma casa foi alugada a 40 km da penitenciária para abrigar parentes de criminosos e servir de esconderijo para comparsas e faccionados prestes a cometer crimes. Uma dupla de advogados foi alvo de buscas e está sendo investigada por atuar como mensageira das ordens do PCC para o mundo fora dos presídios. Uma juíza da Vara de Execuções Penais recebeu ameaças por meio de um bilhete. Gangues conhecidas por assaltos a motoristas de aplicativos passaram a ser batizadas pela facção.
Os cronogramas de expansão da organização em Brasília incluem pequenos agrados, como a isenção do pagamento de uma espécie de mensalidade destinada aos traficantes mais poderosos. Nos planos de fuga de Marcola nunca concretizados, há ainda referências a “ir para cima dos vermes que mandaram nossos amigos para aquele lugar desumano”, em alusão a autoridades responsáveis pela transferência dos criminosos para presídios federais.
Na cadeia local de Brasília, a Papuda, existem cerca de 150 faccionados. Na federal está encarcerada parte da cúpula da organização criminosa. Desde as fugas no presídio regional de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, quando 76 presos escaparam, e na cadeia estadual Francisco d’Oliveira Conde, em Rio Branco (AC), com 26 fugitivos, autoridades emitiram alertas extras para tentar detectar possíveis sinais de comunicação de Marcola com o mundo exterior.