Negociada por União Brasil e PP em meio a diferenças regionais entre seus caciques, uma federação com os dois partidos formaria uma bancada de 108 deputados federais, a maior na Câmara dos Deputados, e aumentaria muito o poder de barganha das siglas junto ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como mostra a reportagem de capa de VEJA desta semana, o petista patina na articulação para formar uma base aliada consistente no Legislativo.
Além do impacto na relação do Palácio do Planalto com o Congresso, especialmente com o Centrão, o possível acordo entre os dois partidos pode acabar impulsionando as negociações por uma outra federação partidos de centro, que uniria o MDB ao grupo já formado por PSDB e Cidadania. A avaliação é feita na cúpula do MDB, cujo presidente, deputado Baleia Rossi (SP), tratou do assunto recentemente com o governador gaúcho e presidente do PSDB, Eduardo Leite.
Os emedebistas, que ocupam os ministérios do Planejamento, dos Transportes e das Cidades no governo Lula, trabalham para quebrar resistências do tucanato à federação. A aliança é vista como saída para revigorar os partidos com vistas às eleições de 2014 e projetá-los à disputa presidencial de 2026, mas também como meio de fortalecê-los no Congresso, diante de bancadas mais robustas de outras siglas, incluindo os mais de cem deputados da União Progressista, como deve se chamar a aliança entre União Brasil e PP — que, diga-se, também tem entraves.
A aliança entre MDB (42 deputados), PSDB (14 deputados) e Cidadania (4 deputados) somaria 60 cadeiras na Câmara, a quarta maior bancada, além de treze senadores, números mais robustos para pleitear, por exemplo, espaços em comissões importantes nas duas Casas. O arranjo, avalia-se no MDB, também serviria para posicionar a sigla mais ao centro, apesar da participação no governo do PT.
Embora tenham caminhado juntos no primeiro turno da eleição presidencial de 2022, quando a atual ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB-MS), teve como vice a senadora Mara Gabrilli (PSD), à época no PSDB, a federação não deve, evidentemente, ser uma negociação fácil. Parlamentares dos dois partidos veem com algum ceticismo a possibilidade, que “amarra” as siglas federadas por ao menos quatro anos, incluindo eleições municipais, por não acreditarem que caciques locais, sobretudo figuras proeminentes do MDB, toparão dividir poder. Emedebistas graúdos, como o senador Renan Calheiros (AL), já haviam torcido o nariz firmemente para a candidatura de Tebet em 2022.
Além das conversas entre tucanos e emedebistas, outra federação que vem sendo negociada é a que pode unir PDT, PSB e Solidariedade, todos aliados do governo Lula.