As filhas e a mulher de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), repassaram quase 60% do valor total arrecadado por ele entre 2007 e 2018. O Ministério Público identificou que dos mais de 2 milhões de reais recebidos por Queiroz no esquema da “rachadinha” – quando o deputado coage funcionários do gabinete a repassar parte dos salários – 1,2 milhão de reais teve como origem os valores depositados por Márcia Oliveira de Aguiar, esposa, e suas filhas Evelyn e Nathália Melo de Queiroz.
As três fazem parte de um grupo de treze “funcionários fantasmas” que jamais apareciam no gabinete de Flávio e “emprestavam seu nome e suas contas bancárias para permitir o desvio de recursos públicos”, segundo as investigações. O Ministério Público identificou que este grupo de treze ex-assessores de Flávio fez 483 repasses para a conta de Queiroz. Segundo o documento, a predominância de 69% dos créditos serem em dinheiro vivo teve como propósito a tentativa de não deixar rastros no sistema financeiro.
O MP mostrou que nem a esposa nem as filhas de Queiroz jamais tiraram o crachá funcional para trabalhar na Assembleia Legislativa do Rio. Márcia, por exemplo, era cabeleireira. Já Nathália, nomeada aos 18 anos, é personal trainer, e trabalhou em três academias no tempo em que deveria dar expediente no gabinete de Flávio – repassou 633 mil reais para a conta do pai. Em junho, VEJA a encontrou levando vida normal na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Na ocasião, ela não esclareceu como conciliava as funções atléticas com o trabalho nos gabinetes de Flávio, de 2007 a 2016, e de Jair Bolsonaro, onde oficialmente foi secretária parlamentar até outubro de 2018. “Não me sinto à vontade para falar disso. Essa história já prejudicou muito a minha vida”, disse.
Nas transferências bancárias para o pai, Nathália identificava os repasses com apelidos como “Nat filha”, para que não restassem dúvidas a Queiroz de quem havia depositado aquelas quantias. Além dos saques, que ultrapassavam os 11.900 reais, havia ainda pagamento de contas na casa dos 10.200 reais.
Segundo o documento, existem provas contundentes da prática dos crimes de peculato, materializados no esquema das “rachadinhas” dos salários de servidores da Alerj, de lavagem de dinheiro, além de organização criminosa.
De acordo com a investigação, Queiroz liderava um dos seis núcleos de corrupção identificados pelo MP no gabinete de Flávio Bolsonaro, com a função de nomear livremente outros assessores para ocupar cargos em comissões na Alerj em troca do repasse de parte dos vencimentos nos cargos públicos. A defesa de Flávio Bolsonaro rechaça que houve prática de “rachadinha”.
Já o advogado de Queiroz, Paulo Klein, afirma que “valores milionários estão sendo apresentados de forma distorcida, para que a opinião pública veja ilegalidades onde não há”. “Os valores foram recebidos ao longo de 10 anos, sendo que na sua quase totalidade eram fruto de rendimentos da própria família que, como dito, centralizavam seus pagamentos na conta do senhor Fabrício”, diz trecho da nota. A defesa acrescenta ainda: “Como já devidamente esclarecido, o sr. Fabrício Queiroz recebia parte dos salários de alguns assessores para aumentar a base de atuação do deputado, ou seja, com a mesma finalidade pública dos recursos, não constituindo qualquer ilegalidade”.