Em 26 de agosto, um homem de óculos de grau, boné preto e roupas escuras entrou no Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Albert Einstein, no Morumbi, em São Paulo. Era o policial militar da reserva Fabrício Queiroz — peça-chave em investigação que envolve o senador Flávio Bolsonaro. Queiroz estava sumido desde janeiro, quando postou um vídeo em que fazia uma dancinha no mesmo hospital enquanto se recuperava de cirurgia para conter um câncer de intestino. A sequência de fotos do desaparecido mais famoso do país — a expressão “Cadê o Queiroz?” se tornou viral nas redes sociais — foi publicada de forma exclusiva por VEJA em 4 de setembro. Queiroz era amigo do presidente Jair Bolsonaro havia mais de trinta anos. A confiança nele era tão grande que os dois pescavam juntos e Queiroz passou a ser assessor, motorista e segurança de Flávio, o primogênito do presidente, quando este era deputado estadual no Rio, até outubro de 2018. Mas Queiroz se transformou em uma assombração para os Bolsonaro quando veio à tona o relatório do Coaf que mostrou que ele havia movimentado em sua conta bancária, durante um ano, 1,2 milhão de reais, valor incompatível com seus vencimentos. A suspeita é que ele operacionalizava uma “rachadinha” no gabinete, ou seja, recolhia parte dos salários dos servidores e a repassava a Flávio. As raras tentativas de Queiroz de explicar a dinheirama, como ao dizer que comprava e revendia carros, não emplacaram. O caso foi paralisado em julho, quando o presidente do STF, Dias Toffoli, suspendeu todas as investigações com base em informações do Coaf. Em novembro, porém, a decisão foi revertida pelo plenário do Supremo. Dias depois, o Ministério Público do Rio realizou busca e apreensão em 24 endereços ligados a Queiroz, a uma ex-esposa do presidente, Ana Cristina Valle, e a Flávio (a loja de chocolates do senador foi arrombada pela polícia). Os desdobramentos da operação ainda vão dar muito que falar em 2020.
Publicado em VEJA de 1º de janeiro de 2020, edição nº 2667