Evangélicos lançam livro para políticos de esquerda
Material tenta romper visão única sobre a religião e orientar parlamentares sobre o segmento religioso que mais cresce no país

Evangélicos ligados ao campo progressista produziram uma cartilha com o objetivo de oferecer uma leitura mais complexa do universo evangélico brasileiro a parlamentares da base governista. Intitulada O mínimo que você (ainda) precisa saber sobre o movimento evangélico no Brasil, a publicação foi distribuída a deputados federais e assessores ligados à esquerda como uma tentativa de qualificar o debate sobre o segmento religioso que mais cresce no país — hoje, cerca de 31% da população, segundo o Datafolha.
Assinada pelo pastor Sérgio Dusilek e pelo linguista Nataniel Gomes, professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, a cartilha reúne artigos de especialistas em ciência da religião, história e comunicação. O propósito, segundo os organizadores, é desmontar o que classificam como uma “visão monolítica” a respeito dos evangélicos. “Ainda há muita desinformação sobre o grupo. A cartilha busca fornecer um piso mínimo de compreensão para que setores progressistas possam estabelecer diálogo com esse eleitorado”, afirma Gomes.
O material reconhece o alinhamento histórico de parte das igrejas evangélicas com a ditadura militar, o apoio a líderes autoritários e a influência do fundamentalismo religioso importado dos Estados Unidos na radicalização moral de determinados setores. Também alerta para o uso frequente de templos como palanques eleitorais.
Contudo, os autores ressaltam que o campo evangélico é marcado por uma grande pluralidade interna. Citam, por exemplo, a existência de “evangélicos do MST” e de lideranças negras das periferias engajadas em pautas sociais. O texto ainda destaca o papel das mulheres como agentes silenciosos de resistência dentro de estruturas eclesiásticas ainda marcadas pelo patriarcado.
A publicação circula nos bastidores do Congresso em um momento em que a esquerda tenta reaproximar-se do eleitorado evangélico, após uma série de derrotas nas urnas nas periferias urbanas. A cartilha também está disponível ao público na Amazon.