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Em diálogos, procuradores lamentam Moro no governo: ‘Queima a Lava Jato’

Novas conversas mostram membros da força-tarefa, incluindo Deltan, reprovando elo entre ex-juiz com Bolsonaro e a postura de Rosângela Moro após eleição

Por Da Redação Atualizado em 1 jul 2019, 02h09 - Publicado em 29 jun 2019, 03h16
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  • Em novas mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil na madrugada deste sábado 29, membros da força-tarefa da Lava Jato lamentam a aproximação de Sergio Moro com Jair Bolsonaro, temerosos de que a credibilidade da operação pudesse ser questionada com a nomeação do ex-juiz como ministro da Justiça e Segurança Pública. O procurador Deltan Dallagnol é um dos promotores que reprovam a entrada de Moro no governo.

    Criticada por Moro em outros diálogos já divulgados, Laura Tessler diz, em 31 de outubro de 2018: “Acho péssimo. Ministério da Justiça nem pensar… além de ele não ter poder para fazer mudanças positivas, vai queimar a Lava Jato. Já tem gente falando que isso mostraria a parcialidade dele ao julgar o PT. E o discurso vai pegar. Péssimo. E ‘Bozo’ [nome utilizado para se referir a Jair Bolsonaro] é muito mal visto… se juntar a ele vai queimar o Moro.

    No mesmo dia, a procuradora Isabel Cristina Groba Vieira, da Lava Jato em Curitiba, afirma: “É o fim ir se encontrar com Bolsonaro e semana que vem ir interrogar o Lula” – ainda antes de Moro aceitar o convite do presidente. “Ele se perdeu (na vaidade) e pode levar a Lava Jato junto. Com essa adesão ao governo eleito toda a operação fica com cara de “República do Galeão”, uma das primeiras erupções do moralismo redentorista na política brasileira e que plantou as sementes para o que veio dez anos depois”, diz João Carlos de Carvalho Rocha.

    Outro procurador da operação, Antônio Carlos Welter, enfatiza que a postura de Moro era “incompatível com a de juiz”. Para ele, assim como outros participantes das conversas, não haveria problema se o ex-juiz aceitasse uma indicação para se tornar ministro do Supremo Tribunal Federal, mas um cargo direto no governo Bolsonaro despertaria dúvidas, especialmente no caso da condenação do ex-presidente Lula.

     

    Welter pondera: “Ministro do STF é um cargo no judiciário, que seria o reconhecimento máximo na carreira. Como ministro da justiça, [Moro] vai ter que explicar todos os arroubos do presidente, vai ter que engolir muito sapo e ainda vai ser profundamente criticado por isso. Veja que um dos fundamentos do pedido feito ao comitê da ONU para anular o processo do Lula é justamente o de falta de parcialidade do juiz. E, logo após as eleições, ele [Moro] é convidado para ser ministro. Se aceitar vai confirmar para muitos a teoria da conspiração. Vai ser um prato cheio. Às vezes, o convite, ainda que possa representar reconhecimento (merecido), vai significar para muita gente boa e imparcial, que nos apoia, sem falar da imprensa e o PT, uma virada de mesa, de postura, incompatível com a de juiz”.

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    A procuradora Monique Cheker expõe visão semelhante. “A ‘escadinha’ disso tudo foi terrível: Moro ajudou a derrubar a esquerda, sua esposa fez propaganda para Bolsonaro e ele agora assume um cargo político. Não podemos olhar isso e achar natural”, diz.

    A mulher de Moro, Rosângela, é citada em diálogos no período por comemorar publicamente a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. José Robalinho Cavalcanti diz que tal gesto foi um “erro crasso” que “compromete Moro. E muito”. No mesmo diálogo, logo após Bolsonaro ser anunciado vencedor das eleições, Janice Agostinho Barreto Ascari diz: “Moro já cumprimentou o eleito. Como perde a chance de ficar de boa”.

    Em 6 de novembro, em um chat privado com Janice Ascari, Deltan Dallagnol diz: “Temos uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão. Não acredito que tenham fundamento, mas tenho medo do corpo que isso possa tomar na opinião pública. Na minha perspectiva pessoal, hoje, Moro e Lava Jato estão intimamente vinculados no imaginário social, então defender o Moro é defender a Lava Jato e vice-versa. Ainda que eu tenha alguma ponderação pessoal sobre a saída dele, que fiz diretamente a ele, é algo que seria importante defender”.

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    Em mensagens publicadas pelo site em outras reportagens desde o dia 9 de junho, Moro aparece orientando ações do Ministério Público Federal na Lava Jato, como na indicação de duas possíveis informantes em uma investigação sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. VEJA localizou os dois personagens ocultos da história: o técnico em contabilidade Nilton Aparecido Alves e o empresário Mário César Neves, dono de um posto de gasolina. Clique para ler a reportagem completa, publicada na edição desta semana.

    Sempre em diálogos com Deltan, o ex-magistrado também sugeriu a inversão da ordem de fases da Lava Jato, cobrou a deflagração de novas operações, antecipou decisões que tomaria e manifestou preocupação com possível “melindre” ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) por investigações contra ele. Os indícios de irregularidades envolvendo o tucano pareciam “muito fracos” a Moro. Os diálogos no aplicativo Telegram foram obtidos, segundo o The Intercept Brasil, por uma fonte anônima que compartilhou o material. 

    Em publicação no Twitter, o ministro da Justiça, Sergio Moro, reiterou que não reconhece a autenticidade do conteúdo, mas minimizou o que foi conversado pelos procuradores. “A matéria do site, se fosse verdadeira, não passaria de supostas fofocas de procuradores, a maioria de fora da Lava Jato”, escreveu o ministro.

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    Em nota, a força-tarefa da Lava-Jato diz que “reconhece como ilegítimo o material publicado, salientando novamente sua origem criminosa, alertando haver fortes indícios de edição de nomes de interlocutores e datas nas supostas mensagens”. O MPF também alega que as informações publicadas não trazem qualquer interesse público e visam apenas “constranger as autoridades públicas mencionadas”.

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